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domingo, 22 de março de 2020

David Mourão-Ferreira





     

David Mourão-Ferreira








    

Photo: Roger Dixey


























Morte, que te insinuas
como um navio torto,
avançando às escuras
no meu corpo,

do teu cruzeiro turvo
as rugas do meu rosto
vão marcando o percurso
rancoroso!

Conheces-me por dentro.
Por fora me assinalas.
E contas com o tempo.
E tens mapas

do regime dos ventos.
E gráficos. E cartas.
E não te impacientas,
porque sabes,

de antemão sabes tudo:
desde o começo, o porto
melhor para o mergulho
da âncora no lodo!


David Mourão-Ferreira

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