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quinta-feira, 19 de março de 2020

Paul Éluard






POEMA
Revelação

Aliviei-te de angústias e inquietações, de tudo 
O que nos pode atormentar através de tudo através de nada
Teria eu podido não te amar a ti
Tu nem que fosse só pela tua gentileza
Como um pêssego após outro pêssego
A desfazer-se na boca como um verão
Toda a angústia todo o tormento
De continuar vivendo a ser ausente
E a escrever este poema
No lugar do poema vivo
Que não escreverei
Como não estás aqui comigo
Os mais tênues esboços do fogo
Preparam o derradeiro incêndio
As mais pequenas migalhas de pão
Bastam aos moribundos
Eu conheci a virtude viva
Eu conheci o bem tornado corpo
Eu recuso a tua morte mas aceito a minha
Teria desejado fazer um jardim
Da sombra que de ti se estende sobre mim
Repousado o arco fazemos parte da mesma noite
E eu quero continuar a imobilidade que agora é tua
O discurso inexistente
Que começando em ti acabará em mim
Comigo voluntário obstinado em revolta
Apaixonada como tu pela terra-maravilha.
Paul Éluard

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