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segunda-feira, 27 de maio de 2019

Sophia de Mello Breyner Andresen






Photo: Man Ray
























I
Como uma flor incerta entre os teus dedos
Há harmonia dum bailar sem fim,
E tens o silêncio indizível dum jardim
Invadido de luar e de segredos.

II
Nas tuas mãos trazias o meu mundo.
Para mim dos teus gestos escorriam
Estrelas infinitas, mar sem fundo
E nos teus olhos os mitos principiam.

Em ti eu conheci jardins distantes
E disseste-me a vida dos rochedos
E juntos penetrámos nos segredos
Das vozes dos silêncios dos instantes.

III
Os teus olhos são lagos e são fontes
E em todo o teu ser existe
O sonho grave, nítido e triste
Duma paisagem de pinhais e montes.

Na tua voz as palavras são nocturnas
E todas as coisas graves, grandes, taciturnas
A ti são semelhantes. 



Sophia de Mello Breyner Andresen

1 comentário:

mariferrot disse...

As palavras são escultoras na arte da dor de saber amar !!!... Bj Conde <3