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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Rui Knopfli





POEMA
transcendência...

Não rimes. 
Ou rima, se quiseres, 
mas não violentes 
a palavra. 
Não busques ansioso, 
qual amante inexperiente, 
a palavra.

Espera antes 
a sua vinda.

Música e rima 
são acessórios dispensáveis: 
O poema é outra coisa.

Deixa, pois, 
que as palavras acordem 
na matriz 
e caiam maduras. 
Áridas ou frias, 
secas e imperturbáveis, 
orvalhadas, humildes, 
estropiadas até, 
que sejam precisas, 
prenhes de significado.

Espera as palavras. 
Elas viajam misteriosas, 
desconhecidas ainda, 
elas germinam 
em ti.

Caem. Juntam-se. 
Doloridas, feias 
sob o visco placentário, 
deselegantes por vezes, 
elas procuram-se 
e organizam-se.

Juntas transcendem-se, 
há algo de íntimo, 
coeso e secreto 
nelas.

O poema está aí.
Rui Knopfli   
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1 comentário:

Fatima maria disse...

Espera as palavras.
Elas viajam misteriosas,
desconhecidas ainda,
elas germinam
em ti.

beijo....