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domingo, 4 de fevereiro de 2018

VALE A PENA LER !!!





Vale a pena ler !!!... FADO tem muito que se lhe diga !!!... 
Antonio Maria
Já lá vão 5 ( cinco anos ) que o meu amigo de longa data SÉRGIO MARQUES , escreveu esta prosa e com muito realismo como podem ver ao lerem-no...
FADO “VADIO” NO GRANDE PORTO
Ingratamente tratados por muitos que se auto-proclamam “defensores e promotores” do fado, os Fadistas Amadores, que animam tardes e noites de fado junto de grupos desportivos e culturais, colectividades de todo género, tascas e restaurantes dos mais baratos aos mais “finos”, continuam a sua “peregrinação” por esses locais onde o fado acontece no sentido de “matar o vício” das cantigas cantando, cantando sempre, mesmo até quando a própria voz lhes dói !... – Amam o fado e são responsáveis (com o contributo do seu canto), pela “manutenção” de muitos estabelecimentos ligados á restauração que sem eles não sobreviveriam.
O epíteto de “Fado Vadio” nasceu quando cantadores e músicos se juntavam na tasca e na taberna e onde no meio de copos e de petiscos se dedilhavam os instrumentos e se cantavam voluntaria e arbitrariamente cantigas em sã camaradagem, apenas com o intuito de passarem alguns momentos agradáveis como forma de “matar o tempo”.
Mas tudo na vida evolui e o fado não é excepção, naturalmente.
E evolui tão rapidamente que actualmente alguns músicos, mesmo os “menos dotados”, já passaram a profissionais, ou seja ; Qualquer dedilhador de “bandola” quando é convidado a tocar, abre a boca “até ás orelhas” na hora de “acertar o cachet ”!... E é pegar ou largar !
Passou-se dos 8 para os 80 em muito pouco tempo, como sabemos.
Esta evolução radical significou para os amadores do fado, ou “cantadores do fado vadio”, um enorme retrocesso. Com os “cachets” aplicados obrigatoriamente aos músicos (e aos apresentadores), os fadistas como são maioritariamente os frequentadores das casas onde há fado, e, ansiosos sempre por cantar, ao ponto de “disputarem o lugar”,(diz-se até por brincadeira em alguns locais que um dia vão ter que “tirar a senha” para se “cumprir a ordem de chegada”), tornaram-se rapidamente nos “suportes financeiros” de apresentadores, músicos, empresários, e do fado em geral, a ponto de se tornarem simultaneamente “clientes principais” e também “Artistas Principais”, mas…sem vencimento !?... E esta, heim ?...
Para o fadista amador o fado é o seu fiel amigo, o seu grande companheiro. Estão sempre a dizer mal “dele” mas não lhe conseguem resistir e estão lá todos os dias. E também se entretêm a dizer mal uns dos outros… (é da praxe). Para o fadista, os “outros” raramente cantam bem, e aquele que é convidado a organizar uma noite de fado remunerada, é usual escolher para o acompanhar quem cante “menos que ele”, (para não lhe fazer sombra)!..
É no fado onde alguns “descarregam” o stress de uma intensa semana de trabalho e onde outros, (muitos), “exercitam o garfo”, (esse malandro cravado nas costas) que os impede (?!) de… trabalhar !?...
Mas é no fado também que alguns, (poucos), encontram o seu sustento apresentando-o, tocando-o ou angariando espectáculos onde se possa ir “buscar algum”.
Sem o fadista amador muitos músicos da nossa praça não teriam oportunidade de mostrar os seus “dotes musicais” e, pior ainda, estariam muitos deles no desemprego.
São cada vez mais os fadistas amadores, e como em qualquer outra profissão há os bons e os menos bons.
Todos têm porém, uma coisa em comum : A Paixão pelo Fado !
O fadista não tem “raça, política ou religião”. O seu “Ícone” é o fado.
A ele todo se dá. E porque gosta muito de cantar, contribui também para o entretenimento e bem-estar de muitos amantes do fado que semanalmente se deslocam aos locais próprios para passarem um bocado de tempo com amigos e familiares e no meio dum copo e dum petisco minimizarem as “agruras” da vida.
Por todas as razões descritas não me parece justo que “alguns” se aproveitem, do amor que o fadista tem pelo fado e o façam pagar e pagar bem para, (imagine-se), cantar !... Mas é o que actualmente acontece !...
“Dar a sua voz”, ser o principal cliente e artista e contribuir grandemente para os vencimentos de patrões e empregados, de músicos, apresentadores etc, são motivos mais que suficientes para que o fadista seja tratado dignamente e sem exploração como infelizmente tem sucedido até aqui.
Não são exorbitantes os preços praticados nos estabelecimentos que dão fado. Quem gosta de assistir ao vivo a um espectáculo “único e genuíno” como ele é, até nem gasta muito dinheiro. Exorbitante é contudo a postura de muitas dessas casas, que cobram exactamente o mesmo valor ao fadista que a outro qualquer cliente. E para que ainda seja maior o cúmulo incluem-se nessas, algumas associações, ditas “sem fins lucrativos” (?!) que, a pretexto do “pagamento aos músicos” cascam forte e feio nos preços dos produtos, indiscriminadamente e sem olhar a quem !
Há bebidas com acréscimo de 150 e 200% , o que é inconcebível !...
E o fadista é obrigado a consumir sempre, sob pena de ouvir umas bocas “foleiras” se o não fizer. E se beber apenas uma bebida o efeito é o mesmo!
Chegam a “inventar” concursos de fado (?!) e a promover “homenagens”, só para chamar a clientela quando o negócio lhes começa a fugir!...
A história é velha : Quem nasceu 1º, o ovo ou a galinha ?
Será que podem fazer-se omeletas sem ovos ?
Será que pode haver fado sem fadistas mesmo tendo bons músicos ?
A resposta será sempre, Nããão !...
Não me parece de bom tom explorar as “fraquezas” dos outros.
Sem fadistas não há fado, Logo, também não há negócio !...
Quando “alguém” decide dar fado, a primeira coisa em que pensa é nos fadistas. – Como artistas da casa ? Nããão ! – Como futuros clientes !...
E porquê ? – Porque lhes conhecem o vício !
E se não conhecerem aparecem sempre os “habilidosos” que por “conveniência” lhes darão sempre uma “ajudinha”!...
Para melhor se entender toda esta dissertação basta fazer saber que actualmente no grande Porto há fado vadio (pasme-se), todos os dias (tarde e noite)!... Quem ganha com isso ? Sempre os mesmos !
E quem perde ? Os mesmos, sempreeee!...
Mas também é verdade que muitos dos que pensavam que ao dar fado encontrariam o “El Dorado” já ficaram pelo caminho…
O FADO já é Património da Humanidade.
Foi uma luta titânica de alguns ilustres intelectuais e artistas consagrados deste país (honra lhes seja feita), mas em que também, todos os fadistas amadores, letristas, poetas, músicos e amantes do fado em geral, e estejam no escalão que estiverem, deram para isso o seu valioso contributo.
É enorme a “legião” das gentes do fado. E se ele consegue congregar tanta gente no mesmo sentimento, é bom que os fadistas reclamem os seus direitos, se associem, e percebam que são muito mais as causas que os unem do que as que os dividem.
Nesta conturbada situação em que nos encontramos e em que toda a gente reivindica melhores condições e o fim da exploração é bom que se medite sobre esta injustiça exercida sobre aqueles e aquelas que apenas gostam muito de cantar e que ao fazê-lo contribuem também para o bem estar dos outros sem pedir nada em troca que não seja um aplauso e compreensão.
P.S. Este discurso não se aplica a todos os visados. Ainda existem no meio fadista alguns empresários, apresentadores, músicos etc, que são gente boa e conscienciosa mas que a meu ver constituem uma minoria.
A esses se presta aqui a merecida homenagem.
Os que se sentirem mal ao lê-lo, que enfiem a carapuça.
Sérgio Marques
Fadista/Declamador
Membro Associado da S.P.A. (Sociedade Portuguesa de Autores)  

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