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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Fernando Assis Pacheco





SEM QUE SOUBESSES

Falei de ti com as palavras mais limpas,
viajei, sem que soubesses, no teu interior. 
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.
Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêncio, madrugada.
Em tudo o mais usei da parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.
Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando, sem que soubesses, por tudo o que fazias.

Fernando Assis Pacheco, in A Musa Irregular, ed. Assírio & Alvim  


Foto de Antonio Maria.

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