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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Nuno Júdice





Rasto

No rasto da manhã inscrevo o tempo; e o tempo rompe o pergaminho
celeste com as suas unhas de terra. Por trás dele, uma estrada de
santiago conduz-me ao infinito. Piso as suas extensões de nada, ouvindo
a areia da eternidade ranger sob os passos do cansaço de um
viajante de sombra. Afasto com as mãos a folhagem do zénite, deixando
soltar-se a erupção de um última chama, e o buraco negro de
uma galáxia morta. O tempo, esse, ficou para trás - e a maré vazia do
passado liberta uma praia de destroços, uma efemeridade de anos,
meses, instantes, onde apercebo rostos, mãos, os lábios nunca esquecidos
com a frase do amor suspensa na interrupção dos segundos.



Nuno Júdice 



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