Seguidores

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Desejos carnais são pensamentos esbatidos de Ricardo - águialivre

Desejos carnais são pensamentos esbatidos





...................................
Desejos carnais são pensamentos esbatidos
Da líbido que nos fere a alma e nos embala
Envolve nosso corpo em viciosos sentidos
Nos anseios que por vezes nossa voz, cala


Desejos carnais são sentimentos de ternura
Carinhos que nos envolvem tão docemente
Que na apetência nos transporta à loucura
Na ansiedade que nos deixa triste e carente


Cumplicidade entre duas pessoas em união
Troca  de caricias na excitação que jamais
Esquece que deve existir em cada coração

Amor, doçura, afecto, e até desejos carnais
..........................


  Ricardo- águialivre     


Eu gosto de ti .....

Eu gosto de ti 
 

Eu gosto de ti                                   
como quem gosta de doce de goiaba
com uma vontade que nunca se acaba
e uma volúpia que sempre se renova.
Eu gosto de ti
como quem gosta de rosa
pela beleza, pela cor, perfume e forma
e por enfeitar a vida ser tua norma.
Eu gosto de ti
como quem gosta da mesma coisa
mil e uma vezes e mais.
Eu gosto de ti
como quem gosta de carnavais,
do vinho, da carne, da transgressão,
enfim, de todo meio de perversão
e, mesmo assim, permanece santo
só porque gosto de ti
tanto...tanto...tanto! 
 
By spersivo
 
 
 

domingo, 29 de novembro de 2015

Si mis manos pudieran deshojar ..... Federico Garcia Lorca

Si mis manos pudieran deshojar .....
 
 
 
 

Yo pronuncio tu nombre
en las noches oscuras,
cuando vienen los astros
a beber en la luna
y duermen los ramajes
de las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
de pasión y de música.
Loco reloj que canta
muertas horas antiguas.
Yo pronuncio tu nombre,
en esta noche oscura,
y tu nombre me suena
más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
y más doliente que la mansa lluvia.
¿Te querré como entonces
alguna vez? ¿Qué culpa
tiene mi corazón?
Si la niebla se esfuma,
¿qué otra pasión me espera?
¿Será tranquila y pura?
¡¡Si mis dedos pudieran
deshojar a la luna!!


Federico Garcia Lorca   



sábado, 28 de novembro de 2015

Uma poesia de Abel Feu





Un lugar en mi alma                                             



Ahora que no nos vemos
y nuestras vidas corren por los días,
cada vez más lejanas,
siento, a veces, unas ganas enormes
de verte alguna tarde, tomar café
contigo, saber cómo te va...


Ahora que no nos vemos
y nos hemos perdido,
no pienses que olvidé todas tus cosas.
Guardo buenas recuerdos, y poemas
que te escrebí (te acuerdas?); guardo
cartas, y fotos...
y un lugar
em mi alma, donde, se quieres
siempre, siempre, puedes  estar.

Abel Feu
 
Um lugar na minha alma
 

Agora que não nos vemos
e nossas vidas correm pelos dias,
cada vez mais distantes,
sinto, às vezes, um desejo enorme
de te ver em alguma tarde, tomar um café
contigo, saber como tu vais....
 

Agora que não nos vemos
e nos temos perdido,
não penses que esqueci tuas coisas.
Guardo boas recordações, e poemas
Que te escrevi (te recordas?); guardo
cartas e fotos...
e um lugar
na minha alma, onde, se quiseres
sempre, sempre podes estar.

Abel Feu   


António Ramos Rosa

Quando te vi senti um puro tremor de primavera
 e a voluptuosa brancura de um perfume
 No meu sangue vogavam levemente
 anénomas estrelas barcarolas
 O silêncio que te envolvia era um grande disco branco
 e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
 e a pureza do trigo e de suaves açucenas
 Quando descobri o teu seio de luminosa lua
 e vi o teu ventre largamente branco
 senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
 nem acariciara jamais uma guitarra redonda
 Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
 a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
 E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
 se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
 Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
 foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol


 António Ramos Rosa  


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Nuno Júdice //// Sonhei contigo

Sonhei contigo


  Sonhei contigo
embora nenhum sonho possa ter habitantes
tu, a quem chamo amor,
cada ano pudesse trazer um pouco mais de convicção
a esta palavra.
É verdade
o sonho poderá ter feito com que,
nesta rarefacção de ambos,
a tua presença se impusesse
como se cada gesto do poema te restituisse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus lábios
com o rebordo desta chávena de café já frio…
Então, bebo-o de um trago.
o mesmo se pode fazer ao amor,
quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço
-terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência das fontes.
É isto, porém, que faz com que a solidão
não seja mais do que um lugar comum
saber que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me responda
quando, uma vez mais te chamo.
 
 
Nuno Júdice 
 
 
 
 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Angelina Alves //// " Leveza da Alma "

" Leveza da Alma" 


 Quero desfraldar um canto de amor...


Partilho contigo e com as estrelas

O meu jardim secreto

Arranco do meu peito a dor

E, escrevo o teu nome nas telas

Do painel da vida. Nas tuas mãos as minhas mãos aperto.

No meu jardim os teus sorrisos vivem

Na casa e no seu aconchego e até nas janelas

De onde alcanço tamanha beleza

Transmito para ti tudo o que os meus olhos dizem

Escrevo o teu nome nas estrelas

Extasio-me leve leveza.

Em movimento a vida ilumina

A sombra ficou transparente

Há a noite e há o dia

Para a vida, o meu sorriso. Sempre


Escrito por: Angelina Alves 
 
 
 

Albano Martins //// Súplica

SÚPLICA



Em que idioma te direi
 este amor sem nome
 que é servo e rei?
Como o direi?
 Como o calarei?
É como se a noite se molhasse
 repentinamente, quando choras.
 É como se o dia se demorasse,
 quando te espero e tu te demoras.


Albano Martins  


terça-feira, 24 de novembro de 2015

Edgardo Xavier... /// Pensamento 117

Pensamento 117




Só o meu tropismo me diz o caminho. Nos melhores dias encontro-te e vivo. Nos outros, perco-me em lugares densos e mal te sinto. Ainda assim, em todas as minhas horas te sei de memória e te respiro.


Edgardo Xavier...   


 

Francisco Valverde Arsénio //// Não Me Lembro / Mas Sei !

 
Não Me Lembro / mas sei ! by Francisco Valverde Arsénio
Não me lembro se chegaste a pedir para entrar nos meus dias. Mas que importa, apetece-me afundar no teu olhar e perder-me num momento que não termine nunca. Só eu sei como a voz dos teus olhos tem mais timbre que o som das gotas de orvalho… e elas caem nesta madrugada vindas do cimo de todas as flores. Enraizaste-te em mim como a neblina ao beijar a terra por cima do monte… intensamente… e os corpos evadem-se nessa bruma densa… toco-te… tocas-me a alma com esse sabor selvagem de quem está presente mesmo quando ausente… és mulher!


© Francisco Valverde Arsénio   





domingo, 22 de novembro de 2015

Manuel Bandeira ///// Madrigal melancólico


MADRIGAL MELANCÓLICO


O que eu adoro em ti
 Não é a tua beleza
 A beleza é em nós que existe
 A beleza é um conceito
 E a beleza é triste
 Não é triste em si
 Mas pelo que há nela
 De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
 Não é a tua inteligência
 Não é o teu espírito sutil
 Tão ágil e tão luminoso
 Ave solta no céu matinal da montanha
 Nem é a tua ciência
 Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti
 Não é a tua graça musical
 Sucessiva e renovada a cada momento
 Graça aérea como teu próprio momento
 Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
 Não é a mãe que já perdi
 E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
 Não é o profundo instinto matinal
 Em teu flanco aberto como uma ferida
 Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
 O que eu adoro em ti é a vida!

Manuel Bandeira   





sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Francisco Valverde Arsénio ///// Gosto de ti

Gosto de ti
 e das marcas do teu rosto
 na almofada da minha cama;
 Gosto de ti
 e do teu sorriso sereno
 adormecido nos lábios;
Gosto de ti
 quando nos momentos de paixão e abandono
 me desenhas na tua pele;  Gosto de ti
 quando vagueias à sombra das laranjeiras
 e as folhas caem no chão como poemas;
 Gosto de ti e de ser eu… em ti.

Francisco Valverde Arsénio (2011)   


valter hugo mãe

poema sobre o amor eterno



 inventaram um amor eterno. trouxeram-no em braços para o meio das pessoas e ali ficou, à espera que lhe falassem. mas ninguém entendeu a necessidade de sedução. pouco a pouco, as pessoas voltaram a casa convictas de que seria falso alarme, e o amor eterno tombou no chão. não estava desesperado, nada do que é eterno tem pressa, estava só surpreso. um dia, do outro lado da vida, trouxeram um animal de duzentos metros e mil bocas e, por ocupar muito espaço, o amor eterno deslizou para fora da praça. ficou muito discreto, algo sujo. foi como um louco o viu e acreditou nas suas intenções. carregou-o para dentro do seu coração, fugindo no exacto momento em que o animal de duzentos metros e mil bocas se preparava para o devorar.


 valter hugo mãe

 in 'contabilidade'  




quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Manuel António Pina /// TEMPO

Tempo
 
 
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
 da prosa dos versos irregulares
 onde cantam os sentimentos irregulares.
 Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
 e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
 olhando as tuas pernas que subiam lentamente
 até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora de liceu;
 Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
 Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
 e não caminhos por andar como dantes.

 Manuel António Pina  


terça-feira, 17 de novembro de 2015

ALBERTO CAEIRO



PASSEI TODA A NOITE, SEM DORMIR, VENDO, SEM ESPAÇO, A FIGURA DELA



Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,...
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


ALBERTO CAEIRO 

POEMAS DE ALBERTO CAEIRO (Ática, 1946; 10ª ed. 1993)



domingo, 15 de novembro de 2015

Isabel De Sousa


POESIA



Para que me visses
 incendiei o sol de abril
 abri os casulos das borboletas azuis
 espelhando no ceu as gaivotas
 e o rio

o teu rosto queimava
 na hora do meio dia
 e â noite

a lua trazia-me a loucura
 das palavras sussurradas

onde se instalava
 o frémito da paixão

a manhã era um sorriso aberto
 no meu corpo

os girassois caminham
 em direção â luz


isabel de sousa   




  

 



sábado, 14 de novembro de 2015

Maria Teresa Horta //// Confissão

Confissão 
Abro-te as portas querendo
a tua luz
numa sede de ti que não se acalma
 Não me negues água
que mata a minha sede
 Desejo o teu incêndio
queimando a minha alma
 
 

 Maria Teresa Horta  





sexta-feira, 13 de novembro de 2015

David Mourão Ferreira /// A ilha



ILHA
 
Deitada és uma ilha E raramente
 surgem ilhas no mar tão alongadas
 com tão prometedoras enseadas
 um só bosque no meio florescente
promontórios a pique e de repente
 na luz de duas gêmeas madrugadas
 o fulgor das colinas acordadas
 o pasmo da planície adolescente
Deitada és uma ilha Que percorro
 descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
 Mas nem sabes se grito por socorro
ou se te mostro só que me inebrias
 Amiga amor amante amada eu morro
 da vida que me dás todos os dias
 
 

DAVID MOURÃO-FERREIRA








quinta-feira, 12 de novembro de 2015

EdgardoXavier. ///// O COMEÇO

O começo
No primeiro encontro fomos, os dois, bem comportados. Nada de excessos, nada de liberdade. O mínimo que me davas era muito mais que suficiente. Aceitei o escuro como condição sine qua non e prescindi de ver a tua nudez. Sentia as mãos a ler-te sob a roupa leve que usavas naquele verão e fui ganhando delícias, uma após outra, sopesando, medindo, provando, gemendo palavras doces ao teu ouvido. Acabou depressa. Veio-nos a vergonha a seguir e, cada um de nós, se vestiu no escuro e, sem despedida, corremos para destinos diferentes. Passou muito tempo até torcermos as nossas vidas para forçar o encontro seguinte. Estávamos sequiosos um do outro e isso deu-nos asas, liberdades, ousadias. Era um jogo perigoso para qualquer virtude mas, ainda assim, corremos todos os riscos. Um só beijo casto porque rapidamente percebemos estar mais interessados numa outra dimensão, quiçá mais adulta, mais sábia, mais exigente. E aprendi-te. Pele, suavidade, calor, força, verdade. E passamos a ser um do outro, propriedade física e psíquica comum. Eramos a mesma terra, o clima forte, idêntica lama. Depois de apagadas as diferenças, a vergonha, os pruridos, era tempo de entrega plena, radical, iluminada, cheia, intensa. Quando nos separávamos ambos íamos incompletos como se um vazio estivesse por preencher mas ambos íamos, também, com o outro inteiro na mente, na pele, no corpo. Estavas na minha boca, nos meus olhos, nas minhas mãos. A tua ausência doía. Depois…acabámos de crescer e perdemo-nos. Ainda te procuro, em vão, noutros corpos, noutra pele, noutros cheiros.


 EdgardoXavier.






Eugénio de Andrade //// Permanecer

Permanecer 
 
 

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
 É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
 É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
 Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

 Eugénio de Andrade 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

CESÁRIO VERDE




 Eu que sou feio, sólido, leal,
 A ti, que és bela, frágil, assustada,
 Quero estimar-te, sempre, recatada
 Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa de um café devasso,
 Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,
 Nesta babel tão velha e corruptora,
 Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorrestes um miserável,
 Eu, que bebia cálices de absinto,
 Mandei ir a garrafa, porque sinto
 Que me tornas prestante, bom, sudável.
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
 E pus me a olhar, vexado e suspirando,
 O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
 Na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;
 E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
 Nessa cintura tenra, imaculada.
 ...
 Soberbo dia! Impunha-me respeito
 A limpidez do teu semblante grego;
 E uma família, um ninho de sossego,
 Desejava beijar o teu peito.
Com elegância e sem ostentação,
 Atravessavas branca, esbelta e fina,
 Uma chusma de padres de batina,
 E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!
 Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, parastes embaraçada
 Ao pé de um numeroso ajuntamento,
E eu, que urdia estes frágeis esbocetos,
 Julguei ver, com a vista de poeta,
 Um pombinha tímida e quieta
 Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então que eu, homem varonil,
 Quis dedicar-te a minha pobre vida,
 A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
 Eu, que sou hábil, prático, viril.

CESÁRIO VERDE   



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Nuno Júdice

Ao ouvir as suites inglesas de bach, a humidade
 dos campos envolve-me, com uma névoa de rios
 e uma auréola de margens. Esta música puxa-me,
 pelas suas mãos de som, para o ritmo que o poema
 devia encontrar no limite dos teus cabelos; e tu,
 contra o portão, nesse contra-luz que te incendeia
 o vermelho da túnica sobre o fundo branco dos
 muros, roubas ao cravo o seu sorriso profano,
 plantando nas suas teclas um desejo que o jardim
 do teu corpo fará florescer. Assim, vens até mim
 pelos degraus deste ritmo que bach inventou,
 para descrever não se sabe que dança, movimento
 de saias com o vento, baloiço vago que se evola
 de uma entrega evanescente, num canto de arbusto,
 até ao silêncio branco com que o amor se fecha.



Nuno Júdice    



Clique no endereço abaixo :
https://youtu.be/REu2BcnlD34

domingo, 8 de novembro de 2015

Luciane Zanata //// Um dia de Domingo.....


Um dia de Domingo...


Domingo não deveria existir,para quem sente saudade.
 Já tomei o meu café,é o meu último cigarro...
 E o Domingo,acaba de começar.
 O meu "hobby",é sentir saudade.
 Não tenho idade para tanto saudosismo,mas a minha alma
 é bem mais "madura",do que essa que escreve.
 O Domingo,é um vilão...ele não é dia de nada.
 Ele é a minha busca,dos que "partiram" de mim..
 Da tempestade vermelha,e da tempestade arroaceira,que me
 trouxe e me levou você.
 Quero um outro cigarro,mas a padaria...está fora dos meus planos.
 Os meus enganos,os meus traumas,são só meus agora.
 Eu queria uma sombra,uma árvore gigantesca,eu queria o teu colo,
 o teu ombro,o teu cheiro, a tua poesia.
 Ah...como eu queria um Domingo diferente,só nosso.
 Me leva daqui...eu não suporto..."gente",rindo de programas de auditório,eu quero muito mais que isso.
 Quero o compromisso,de rir,sempre...de mim mesma.
 Não quero quatro pratos na mesa,nem comida eu quero hoje.
 Eu quero mesmo,é ter você...saborear o teu beijo,ser o teu desejo.
 Desligar essa televisão insuportável...seja amável comigo,vamos fugir
 desse Domingo insano,que nos separa.
Hoje...vou esperar a Segunda-Feira,para ser mais feliz.
 

Luciane Zanata



Pedro Tamen //// Devagar....


Devagar... 




Devagar te amo, e devagar assomo
os dedos à altura dos olhos, do cabelo
dos anéis de outro turno, que é só meu
por querê-lo, meu amor, como a ti mesma quero
nos tempos de passado e sem futuro.
Devagar avanço um dealbar de dias
que vida seriam - mesmo que morto, à noite,
eu voltasse amargurado mas presente,
calado e quedo, e devagar amando.

 Pedro Tamen   




sábado, 7 de novembro de 2015

J. G. de Araújo Jorge ///// CHOVIA ........chovia

Chovia... chovia...

 
Naquela tarde, como chovia!
Me lembro de que a chuva caía
lá fora
sem parar,
e seu surdo rumor até parecia
um sussurro de quem chora
ou uma cantiga de embalar...
Me lembro que tu chegaste
inquieta, ansiosa,
mas logo te aconchegaste
em meus braços, quietinha...
(...enrodilhada como uma gatinha...)
E eu quase não sabia o que fazer:
se de encontro ao meu peito te deixava adormecer...
se te mantinha acordada, para seres minha...
Me lembro que chovia... chovia sem parar...
E que a chuva caía a turvar as vidraças
anoitecendo o quarto em seus tons baços...
Me lembro de que te sentia
aconchegada em meus braços...
Me lembro que chovia...
E de que era bom porque chovia,
e porque estavas ali, e porque eu te queria...
Sim, me lembro que tudo era bom...
E que a chuva caía, caía,
monótona, sem parar,
naquele mesmo tom...
Naquela tarde, amor, como chovia!
Agora, quando longe de ti, nem sou mais eu
em minha melancolia,
não posso mais ouvir a chuva cair
que não fique a lembrar tudo o que aconteceu
naquele dia...
Naquele dia...
enquanto chovia...


J. G. de Araújo Jorge   



sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Helena Guimarães ///// fantasias

FANTASIAS


Olho-te a voar no espaço
 em curvas, contra curvas
 elipses, e formas helicoidais.
 A Céu é de fogo,
 o mar, líquida prata.
 Há um cheiro a algas e sal
 e moluscos decompostos.
 Ao longe o horizonte finito
 com barcos desenhados
 como serigrafias.
 Em mim, uma ânsia de infinito,
 de partir as amarras do tempo
 e desenhar coriografias
 contigo, no espaço alado.
 Fugir do hoje,
 sem chegar o amanhã
 que tarda, reduzindo-me
 a um seixo multicolor.
 Ai! Voos de gaivota
 por imensos mares.
 Ai! Caminhos de oceanos
 futuros dos dias,
 passado dos dias,
 em rotas ignotas
 sem sextante.
 Ai! A minha alma presa
 cortadas as remiges
 para não voar.
 Como voo no espaço
 se sou seixo?
 Fantasias com asas
 de gaivota
 que desenha no espaço
 formas helicoidais.


Helena Guimarães 


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Helena Guimarães ///// Espigas


ESPIGAS



Lembro-me…

Os teus olhos tinham

o dourado das espigas sazonadas

das planícies alentejanas

e uma alegria de sol poente

que te adoçava o sorriso.

 

Prouvera que fossem verdes

como a nossa Primavera,

com cambiantes de paixão

e ternura nos gestos.

Mas eram da cor do mel!

de brilho lânguido e esquivo.

Promessas de universo

para além de nós.

 

Feneceram os olhos

e os universos pararam ao virar da esquina.

Há uma saudade líquida

nas pupilas cor de palha

que lhe dilui os contornos

Saudades do que não foi!





                                    Helena Guimarães


               



Cidália Ferreira //// Tento subir......

Tento subir...
 
 
 

Tento subir, degrau em degrau
Para alguém poder encontrar
Não encontro nem o vejo passar
Nem o sol me quer visitar
Não me aquece, sinto-o fugir,
Tento romper a imensidão
Do nevoeiro denso, tenho olhar
O céu não consigo alcançar
Nem o seu azul a brilhar,
Espaçadamente quero subir
Subir a escada da vida
Mas o nevoeiro fica serrado
Não me deixa ir mais além
Impedindo que encontre alguém
Tento subir, tenho alcançar-te
Tento estar ao nível que pedes
Fazes de mim pessoa de bem
Desenvolves a minha pequenez
Tento subir depois e talvez
O tempo alise e eu possa ver
O sol a brilhar, tudo a fluir
E no cimo da escada, o teu sorrir.

Cidália Ferreira




quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Vieira Calado //// Os teus olhos



OS TEUS OLHOS



 Os teus olhos perpetuavam a lembrança dos grandes rios
perpassando na bruma antiquíssima da montanha
e tinham o silêncio trémulo transparente das estrelas
que se extinguem ao clarim da aurora
 
Os teus olhos tinham a serenidade dos grandes dias
iluminando a cinza prateada das escarpas
na cor serena tranquila das memórias
que renascem ao clarim da aurora
 
Os teus olhos tinham o sussurro rumorejante das ervas
onde crescem os ventos ágeis da planície
a luz milenar da manhã primeira
que me acordou ao clarim da aurora.


Vieira Calado  


Resultado de imagem para foto de olhos verdes



EDGARDO XAVIER //// Decifra-me....


 DECIFRA-ME
 Que os teus dedos não fiquem
 sem rumo
 à superfície da sede
 Que a tua boca não seque no sal
 de um mar inútil
 de memórias
 Pedras e lagrimas
Procura-me
 na terra mais fértil
 ou na aridez do caminho
Lê-me
 no silêncio dos dias sem idade
 sem destino
Sou eu o fogo do teu sol

EDGARDO XAVIER  



terça-feira, 3 de novembro de 2015

Eugénio de Castro //// Rosa murcha

ROSA MURCHA


 _ «Quarenta anos fez ontem (sexta-feira
«Da Paixão do Senhor!) a mulher doce
«Que há oito dias para aqui me trouxe
«Da minha verde e maternal roseira.
 
«Amou com vivo amor... e está solteira!
«Sua trança doirada desdoirou-se,
«E chora como as fontes! Antes fosse
«Em tranquilo convento ingénua freira!
 
«Ontem, no seu jantar sem convidados,
«Sem sobremesa, silencioso e curto,
«Só conversava com o relógio velho...
 
«E erguendo os olhos, d'água marejados,
«Para mim, murcha rosa, olhava a furto,
«Como se eu fosse em frente dela um espelho

 Eugénio de Castro  



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

são reis //// Sei.....................


Sei que me habitas
 que estás aonde eu estou
 que te fazes presença
 mesmo quando o teu corpo é ausente
 que me encontras em cada virar de página
 em cada nota que tocas
 nessa tua guitarra que geme
 notas que nem a garganta se atreve a cantar
Sei que estou nos teus versos
 nesses que escreves
 e nos que pensas
 nos pormenores com que descreves os sonhos
 a forma dos meus olhos
 o canto das aves que a medo se recolhem
Sei a cor de um céu estrelado
 e a forma de todas as estrelas
 Sei que esta noite estarás aonde pairar
 a minha imaginação
 ao alcance da minha mão
 no declive dos meus dedos tornados areia
 no eriçar da minha pele
 no gemer da minha carne
Sei que estás aí
 embora eu não te toque
 embora eu não te veja!


são reis   




domingo, 1 de novembro de 2015

Vinicius de Moraes //// Ternura

Ternura



Eu te peço perdão por te amar de repente
 Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
 Das horas que passei à sombra dos teus gestos
 Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
 Das noites que vivi acalentado
 Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
 Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
 E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
 Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
 Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
 É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
 E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
 E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.


- Vinicius de Moraes 





Catarina Pinto Bastos //// Declaração de amor......

DECLARAÇÃO AO MEU AMOR



És prenda valiosa, que aceito sem hesitar!
 Não precisa de embrulho, nem de laço
…a não ser, o do abraço que me vais dar...
 Escrevi-te estas palavras de coração a palpitar
 ...e de tanta comoção não dei conta, de afinal
…tudo estar a rimar… tal como mar com amar

Há laços entrelaçados nos abraços, e são
 ... tantos amor, que eu tenho para te dar…
E a certeza de inteira só a ti me querer dar...
 Sei meu amor, que para sempre te irei amar
 pelo tempo que restar, no teu coração vais morar.



Catarina Pinto Bastos