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domingo, 14 de abril de 2013

De : Maria Helena Guimarães

Café Majestic - Porto
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Fantasia. @[100002079735449:2048:Maria Helena Guimarães]

Estavam sentados à mesa de tampo de mármore do Majestic. Os cafés descansavam frios, esquecidos. Nas mãos a ânsia do afago. O olhar liquefeito de desejo.
Tudo começara por uma brincadeira na net:

- De onde tc?

Depois fora a fantasia….

E agora, no ambiente arte-nova do café da baixa, tentavam reorganizar na realidade os sentimentos…

Pelas portas de vidro a claridade entrava mansa. Na mesa do canto um homem rabiscava no guardanapo de papel. Algum poeta a beber o ambiente de tertúlia de outrora….

Lá fora, na rua, o homem- estátua, coberto de alvaiade, ausente na sua imobilidade, negava o frio e o vento por alguns cêntimos…..

- Vamos à Foz ver o sol pôr? – a voz dela quebrou o silêncio pesado do que não se quer dizer…

Os trocos tamborilaram na mesa, sobrepondo-se ao sussurrar quente do ambiente. Empurraram a porta e caminharam lado a lado pela rua empedrada que fazia doer os pés.

- Lembras-te do eléctrico? Aquele que fazia a marginal? –  a pergunta dele atirou-os para a mocidade, dependurados do eléctrico, as bocas cheias de riso, o vento a esvoaçar os cabelos…

Mas já não havia. Agora um autocarro cheio de gente, suada e apressada, empurrando-se numa conquista do futuro, fazia o caminho em arranques e travagens que enrolavam o estômago.

Na Foz o pôr do sol de rio-mar era esplêndido. Sentaram-se na esplanada e beberam os raios vermelho sangue que caminhavam até eles nas ondas mansas.

Entrelaçaram as mãos na conjugação da poesia dos corpos e do rubro sol que se afundava no mar…lá ao longe, no cais, os pescadores, pacientemente, lançavam as linhas para apanhar robalos…

A noite tombou calma e sem pressa. Foram conversando sem pressa. Foram-se avaliando sem pressa…

Jantaram na Ribeira. Num restaurantezinho cavado na rocha onde, nas mesas de bancos corridos, o vinho tinto se bebia em canecas cheias de espuma e o cardápio se lia numa lousa espetada na parede.

Os olhos incendiavam o corpo. A fome era pouca. 

O rio em maré vasa deslizava por entre os rebelos de exposição. Do outro lado as pequenas barracas nas esplanadas do vinho do Porto.

- Vamos beber um copo? – E atravessaram a ponte velha de ferro.

Da esplanada via-se o Porto. Ao longe o rio a beijar o mar. O casario amarelo  subindo a encosta como um presépio. Uma calma feita de passado e recordações. Perto da barra, na colina, o Convento de Monchique onde Mariana de Alcoforado viu partir barra fora para as galés  Simão Botelho, no apaixonado livro de Camilo “Amor de Perdição”

Os músicos tocavam anos sessenta….Compraram uma rosa vermelha que trazia no pé, enrolado, um poema de Florbela: Meus nervos, guizos de oiro a tilintar/cantam-me na alma a estranha sinfonia/ da volúpia, da mágoa e da alegria,/que me faz rir e que me faz chorar.

O vinho do Porto, dourado, macio e encorpado, aquecia-lhes o corpo e desprendia-lhes o sentimento…

Levantaram-se e enlaçados partiram pelas ruelas rumo à noite….

Maria Helena Guimarães

 

 MAJESTIC – O café mais famoso do Porto e um dos mais belos do mundo. Conta a história do Porto da “Belle Epoque”, dos escritores e artistas, das tertúlias políticas e do debate de ideias. Obra do arqt. João Queirós, foi inaugurado em 1921. Amadeu de Sousa Cardoso, Teixeira de Pascoais e José Régio foram presenças constantes. Restaurado em 1994, manteve o seu traçado em arte-nova – tectos em gesso pintado de dourado e trabalhado, magníficos espelhos de cristal de Antuérpia nas paredes, chão de mármore indiano. Lustres de grandes dimensões dão uma luz difusa e as mesas têm tampos de mármore
Fantasia. Maria Helena Guimarães

Estavam sentados à mesa de tampo de mármore do Majestic. Os cafés descansavam frios, esquecidos. Nas mãos a ânsia do afago. O olhar liquefeito de desejo.
Tudo começara por uma brincadeira na net:

- De onde tc?

Depois fora a fantasia….

E agora, no ambiente arte-nova do café da baixa, tentavam reorganizar na realidade os sentimentos…

Pelas portas de vidro a claridade entrava mansa. Na mesa do canto um homem rabiscava no guardanapo de papel. Algum poeta a beber o ambiente de tertúlia de outrora….

Lá fora, na rua, o homem- estátua, coberto de alvaiade, ausente na sua imobilidade, negava o frio e o vento por alguns cêntimos…..

- Vamos à Foz ver o sol pôr? – a voz dela quebrou o silêncio pesado do que não se quer dizer…

Os trocos tamborilaram na mesa, sobrepondo-se ao sussurrar quente do ambiente. Empurraram a porta e caminharam lado a lado pela rua empedrada que fazia doer os pés.

- Lembras-te do eléctrico? Aquele que fazia a marginal? – a pergunta dele atirou-os para a mocidade, dependurados do eléctrico, as bocas cheias de riso, o vento a esvoaçar os cabelos…

Mas já não havia. Agora um autocarro cheio de gente, suada e apressada, empurrando-se numa conquista do futuro, fazia o caminho em arranques e travagens que enrolavam o estômago.

Na Foz o pôr do sol de rio-mar era esplêndido. Sentaram-se na esplanada e beberam os raios vermelho sangue que caminhavam até eles nas ondas mansas.

Entrelaçaram as mãos na conjugação da poesia dos corpos e do rubro sol que se afundava no mar…lá ao longe, no cais, os pescadores, pacientemente, lançavam as linhas para apanhar robalos…

A noite tombou calma e sem pressa. Foram conversando sem pressa. Foram-se avaliando sem pressa…

Jantaram na Ribeira. Num restaurantezinho cavado na rocha onde, nas mesas de bancos corridos, o vinho tinto se bebia em canecas cheias de espuma e o cardápio se lia numa lousa espetada na parede.

Os olhos incendiavam o corpo. A fome era pouca.

O rio em maré vasa deslizava por entre os rebelos de exposição. Do outro lado as pequenas barracas nas esplanadas do vinho do Porto.

- Vamos beber um copo? – E atravessaram a ponte velha de ferro.

Da esplanada via-se o Porto. Ao longe o rio a beijar o mar. O casario amarelo subindo a encosta como um presépio. Uma calma feita de passado e recordações. Perto da barra, na colina, o Convento de Monchique onde Mariana de Alcoforado viu partir barra fora para as galés Simão Botelho, no apaixonado livro de Camilo “Amor de Perdição”

Os músicos tocavam anos sessenta….Compraram uma rosa vermelha que trazia no pé, enrolado, um poema de Florbela: Meus nervos, guizos de oiro a tilintar/cantam-me na alma a estranha sinfonia/ da volúpia, da mágoa e da alegria,/que me faz rir e que me faz chorar.

O vinho do Porto, dourado, macio e encorpado, aquecia-lhes o corpo e desprendia-lhes o sentimento…

Levantaram-se e enlaçados partiram pelas ruelas rumo à noite….

Maria Helena Guimarães



MAJESTIC – O café mais famoso do Porto e um dos mais belos do mundo. Conta a história do Porto da “Belle Epoque”, dos escritores e artistas, das tertúlias políticas e do debate de ideias. Obra do arqt. João Queirós, foi inaugurado em 1921. Amadeu de Sousa Cardoso, Teixeira de Pascoais e José Régio foram presenças constantes. Restaurado em 1994, manteve o seu traçado em arte-nova – tectos em gesso pintado de dourado e trabalhado, magníficos espelhos de cristal de Antuérpia nas paredes, chão de mármore indiano. Lustres de grandes dimensões dão uma luz difusa e as mesas têm tampos de mármore

3 comentários:

fatima disse...

Este texto,está maravilhosamente bem escrito.....Lindissimo!!Beijo.......

fatima disse...

Magestosamente,bem escrito........
beijo

Unknown disse...

OLÀ!!!!!

Helena Guimarães,é uma poetisa de minha eleição...e passar por aqui...é sempre um gosto...para os AMANTES de BOA POESIA....

Grata...pelo prazer de tão BOAS OBRAS AQUI PUBLICADAS!!!!!

beijinhos D. JUAN