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domingo, 18 de setembro de 2022

Alberto Caeiro

 

Meto-me para dentro, e fecho a janela. 
Trazem o candeeiro e dão as boas-noites,
E a minha voz contente dá as boas-noites. 
Oxalá a minha vida seja sempre isto: 
O dia cheio de sol, ou suave de chuva, 
Ou tempestuoso como se acabasse o mundo, 
A tarde suave e os ranchos que passam 
Fitados com interesse da janela, 
O olhar último amigo dado ao sossego das árvores, 
E depois, fechado a janela, o candeeiro acesso, 
Sem ler nada, sem pensar em nada, sem dormir, 
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito, 
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.


Alberto Caeiro




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