Vejo-te chegar como a gazela vê chegar o incêndio.
Tua língua rasga o torpor das savanas austrais,
é raio rasgando-me a pele e a sede.
Cuidadosa e lentamente, aqui e acolá,
sopras pequenos fogachos, delícias de pirómano
que ardem devagar devagarinho na carne toda
em sulcos, lentamente, por baixo e por dentro.
Vens, como uma trovoada de chamas
inundar-me de ti, afogar-me na tua boca,
e divertes-te a saltar de charco em charco
semeando pequenos peixes verdes e azuis
como berlindes jogados e esquecidos,
à medida que o fogo se vai consumindo
e a cinza é toda de lava fumegante.
Do teu orvalho despontam verdes raízes,
todos os meus músculos de relva fresca,
um tapete de flores semeado a olho
mil cores de mil feitios e mil cheiros…
Um milagre recebido de joelhos e olhos rasos,
a explosão primordial toda fechada num casulo!
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