Alegria
Seguidores
sábado, 31 de julho de 2021
Hamilton Ramos Afonso
sexta-feira, 30 de julho de 2021
Vasco Gato
quarta-feira, 28 de julho de 2021
DE ONDE
DE ONDE
De onde vem esta nostalgia vazia
Este tédio obscuro
Esta sensação insensível
Este desintegrar-se integrando-se
Esta dor prazer
Esta tristeza alegre
Esta vontade de dizer chegamos
Sem ter ido a parte alguma.
Esta sensação de nada repleta de tudo.
Este dormir sem sono,
Este sonhar sem sonho,
Este sentimento preso e extravasado,
Enfim, esta necessidade supérflua de você.
Ilustração: A mente é maravilhosa.
(De "Apocalypse", Editora Per Se).
terça-feira, 27 de julho de 2021
M.O.M. (Brisa)
Quando tu não estás...
segunda-feira, 26 de julho de 2021
Poesia à segunda
Praia do paraíso
Era a primeira vez que nus os nossos corpos
apesar da penumbra à vontade se olhavam
surpresos de saber que tinham tantos olhos
que podiam ser luz de tantos candelabros
só o rumor do mar permanecera em casa
E sabias a sal E cheiravas a limos
que tivessem ouvido o canto das cigarras
Havia mais que céu no céu do teu sorriso
madrugada de tudo em tudo que sonhavas
Em teus braços tocar era tocar os ramos
que estremecem ao sol desde que o mundo é mundo
É preciso afinal chegar aos cinquenta anos
para se ver que aos vinte é que se teve tudo
(David Mourão-Ferreira)
sábado, 24 de julho de 2021
1954 Cecília Meireles
Poesia
sexta-feira, 23 de julho de 2021
Sopro © Coucelo , Vejo-te chegar ........
quinta-feira, 22 de julho de 2021
Cidália Ferreira
quinta-feira, 22 de julho de 2021
No despertar da melancolia...
Raquel Lacerda
Tens flores dentro da pele
© francisco valverde arsénio
Tão Simples Quanto Nós
quarta-feira, 21 de julho de 2021
Mia Couto, em “Raiz de Orvalho e outros poemas”.
Amei-te sem saberes
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar
No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada
Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio
– Mia Couto, em “Raiz de Orvalho e outros poemas”. Lisboa: Editorial Caminho, 1999.
terça-feira, 20 de julho de 2021
RECONCILIAÇÃO
É sempre assim
quando tudo parece muito bem
a sensação de tédio vem,
ou, pelo menos, se confessa
entediada
porquê entre nós não muda nada.
É sempre assim
forma-se a tempestade
de um copo de água,
cresce, tudo inunda
e se transforma em mágoa
e me manda, enfurecida
ir cuidar da minha vida;
me manda passear
em outro lugar.
É sempre assim
quando menos se espera
a nuvem negra passa e me chama,
talvez, por costume,
explica o que não precisa explicar.
O olhar, que não mente,
me diz o que sente
e o que houve se esquece
quando não se deixa de amar.
sábado, 17 de julho de 2021
Max Ehrmann
DESIDERATA
Herberto Helder
Elegia múltipla
III
Havia um homem que corria pelo orvalho dentro.
O orvalho da muita manhã.
Corria de noite, como no meio da alegria,
pelo orvalho parado da noite.
Luzia no orvalho. Levava uma flecha
pelo orvalho dentro, como se estivesse a ser caçado
loucamente
por um caçador de que nada sabia.
E era pelo orvalho dentro.
Brilhava.
Não havia animal que no seu pêlo brilhasse
assim na morte,
batendo nas ervas extasiadas por uma morte
tão bela.
Porque as ervas têm pálpebras abertas
sobre estas imagens tremendamente puras.
Pelo orvalho dentro.
De dia. De noite.
A sua cara batia nas candeias.
Batia nas coisas gerais da manhã.
Havia um homem que ia admiravelmente perseguido.
Tomava alegria no pensamento
do orvalho. Corria.
Ouvi dizer que os mortos respiram com luzes transformadas.
Que têm os olhos cegos como sangue.
Este corria assombrado.
Os mortos devem ser puros.
Ouvi dizer que respiram.
Correm pelo orvalho dentro, e depois
estendem-se. Ajudam os vivos.
São doces equivalências, luzes, ideias puras.
Vejo que a morte é como romper uma palavra e passar
– a morte é passar, como rompendo uma palavra,
através da porta,
para uma nova palavra. E vejo
o mesmo ritmo geral. Como morte e ressureição
através das portas de outros corpos.
Como uma qualidade ardente de uma coisa para
outra coisa, como os dedos passam fogo
à criação inteira, e o pensamento
pára e escurece
– como no meio do orvalho o amor é total.
Havia um homem que ficou deitado
com uma flecha na fantasia.
A sua água era antiga. Estava
tão morto que vivia unicamente.
Dentro dele batiam as portas, e ele corria
pelas portas dentro, de dia, de noite.
Passava para todos os corpos.
Como em alegria, batia nos olhos das ervas
Que fixam estas coisa puras.
Renascia.
Herberto Helder
recitando o poema ‘Elegia Múltipla – III’, do livro «A Colher na Boca» (1961). Registrado em disco Vinyl, editado pela Philips, para a série Poesia Portuguesa (1968). Música: Gustavo Santaolalla e Thomas Newman