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terça-feira, 23 de março de 2021

LXXXV

 

LXXXV


 


Sei que estou estranho,

indiferente, silencioso, apático,

quase um vegetal humano.

Nem penso

que me comporto

como se enfiasse um punhal no teu peito-

e isto, bem sei, não é direito.  

 

Sei que deveria ter te procurado, 

estar do teu lado,

ter contigo almoçado,

sem ficar assim tão depressivo,

tão sem forças,

tão contente em nada fazer,

sem motivo,

exceto dormir e comer.

 

Talvez, nem me queiras mais,

cansada, que sei que estás,

de esperar por algum sinal meu.

E aqui continuo inerme,

preguiçoso, dormindo,

esperando os dias passar

em lenta agonia.

 

E me justifico, 

antes de apagar a luz e ir dormir :

talvez não seja o dia, 

talvez não seja a hora, 

e, em profunda letargia,  

afirmo é culpa da pandemia!

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