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sábado, 6 de março de 2021

Dulce María Loynaz e Vasco Gato

 

Não preciso, Senhor, da Quarta-feira de Cinzas, pois não há 
dia da semana em que me esqueça de que fui em tempos barro 
na tua mão. 
Se de alguma coisa preciso é que o não esqueças Tu...


Dulce María Loynaz





fala-me dos arcos de céu 
onde infinitos pequenos astros 
se rebolam sobre a pureza 
do teu rosto. fala-me dos teus olhos, 
da paisagem que inventam aí
onde se adivinham os dias e se pressente 
o vibrar ligeiro do novo amor em semente. 

escutarei, e das tuas palavras vou tirar 
outras que não são para dizer, que trazem 
o mais íntimo segredo disso que é real, 
disso que ignora as paredes e em tudo 
desenha o horizonte que somos em nós. 

mudo ficarei suspenso da tua voz sem saber 
ao certo se é verdade ou mentira, se se pode 
de facto criar um rosto que nos mostre por completo, 
como a pele mostra a mão, 
sem saber se este sangue e esperança 
será suficiente para te encontrar 
no rebolar dos infinitos pequenos astros.


Vasco Gato




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