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domingo, 19 de julho de 2020

Rui Pires Cabral





     













































Os poemas podem ser desolados 
como uma carta devolvida, 
por abrir. A sua verdadeira consequência
raramente nos é revelada. Quando, 
a meio de uma tarde indistinta, ou então 
à noite, depois dos trabalhos do dia, 
a poesia acomete o pensamento, nós 
ficamos de repente mais separados 
das coisas, mais sozinhos com as nossas 
obsessões. E não sabemos quem poderá 
acolher-nos nessa estranha, intranquila 
condição. Haverá quem nos diga, no fim 
de tudo: eu conheço-te e senti a tua falta? 
Não sabemos. Mas escrevemos, ainda 
assim. Regressamos a essa solidão 
com que esperamos merecer, imagine-se, 
a companhia de outra solidão. Escrevemos, 
regressamos. Não há outro caminho. 


Rui Pires Cabral

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