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terça-feira, 9 de abril de 2019

António Ramos Rosa





Há uma mulher na minha solidão sem lábios
que não sei se é azul ou verde
que se apaga talvez no horizonte
há uma mulher talvez na palavra solidão
que nunca se distingue da palavra
porque é a palavra mesma que se não diz
porque é a solidão que não ela

Há uma mulher nos confins da minha ausência
como uma sombra da minha ausência
como ausência da mesma sombra

Há uma mulher nos lábios da minha solidão
que nunca chega a ser pronunciada
ou é o ar de uma sede que não respiro
ou o nada mesmo de toda a solidão

Há uma mulher de musgo nas minhas pálpebras
e outra que se esconde nos olhos e é a mesma
há uma mulher de música
no meu sorriso
há uma mulher de tristeza como o tempo
na água das minhas mãos

Há tantas mulheres no meu corpo
e tantas todas são só uma
ou nenhuma

                       ou nenhuma
e é a mesma que caminha contra o vento
em qualquer rua

António Ramos Rosa  





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