Seguidores
terça-feira, 30 de abril de 2019
segunda-feira, 29 de abril de 2019
Nuno Júdice
Photo: Erwin Blumenfeld |
Faço uma linha a meio do corpo, como num
tratado de Tordesilhas, para dividir o que me
pertence e o que apenas pertence ao espelho
que te reflecte, quando passas a meio do quarto,
e de um lado és presente e material aos
meus olhos, e do outro lado és só imagem,
como se estivesses a entrar numa espécie de
realidade em que não existe hoje nem ontem,
mas apenas a beleza que dura para além do
tempo e das circunstâncias em que te vejo.
É um tratado que faço entre mim e mim para
te dividir, e saber que este corpo que hoje
possuo logo deixará de me pertencer quando
o deitar no poema, como alguma vénus de
rubens ou banhista de renoir, envoltas
em véus ou em arbustos, à luz das velas ou
do sol. E sinto o que tenho quando te perco,
e o teu corpo se imprime para lá dessa linha
abstracta que te separa de ti própria, quando
em ti se juntam a realidade e o seu reflexo.
Mas se tiro da tua frente esse espelho, é
dentro de mim que tu te reflectes, e sou eu
o espelho em que entras para deixares de
fazer parte de mim, e seres quem aqui vive,
e para sempre respira neste último verso.
Nuno Júdice
Fernando Pessoa
Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
Fernando Pessoa
domingo, 28 de abril de 2019
Isabel Carvalho de Sousa
Há
Há palavras que o coração tece
com fios de seda.
Guardam sentimentos
na emoção dos caminhos que andam rubros
na voz da noite.
São palavras vulgares
que andam no sorriso
quando preciso
ser o teu horizonte.
Isabel Carvalho de Sousa
sábado, 27 de abril de 2019
POESIA / sonho ou pesadelo
sonho ou pesadelo...
Um sonho,
o tempo passa
mil ideias passam pela cabeça,
milhões de medos nos abraçam.
Mas um dia o sonho vira realidade,
primeira reacção, felicidade
um amor maior.
De um momento para o outro,
esse sonho, sem nada dar a entender
vira um pesadelo.
O céu desaba, um buraco bem fundo se abre.
Algo inesperado, do qual pouco se sabe.
Um dia passa, e outro, e outro
nada de novo nos contam,
apenas a certeza que não percebemos o que nos rodeia,
que não sabemos bem o que fazer.
uma opinião, não muito animadora,
mais outra, que nada traz de novo.
Sem saber bem no que acreditar.
O coração diz,
vai ficar tudo bem,
a cabeça reforça,
uma dificuldade de cada vez,
e acreditar, que a esperança é a ultima a morrer.
Vai valer a pena, os pequenos passos a dar,
temos que acreditar, temos de erguer a cabeça
dar voltas e voltas e tentar outra solução,
é essencial não desistir.
Não deixar morrer o que vos une.
há um ombro amigo, para nos amparar,
para nos secar as lágrimas que teimam rolar,
para não nos deixar cair.
um tropeço, levanta-te e segue,
assim é a lei da vida.
Alguém necessita igualmente do apoio, do amparo,
e para isso necessitas estar bem.
Os amigos é para isso que servem
para nos amparar e ajudar a acreditar
Que vai valer a pena lutar.
por esse amor maior.
E ter a certeza
aconteça o que acontecer,
Será sempre..... sempre.....
O TEU AMOR MAIOR...
Beijo de....
Saudade
De saboramar
POESIA SABORAMAR
POESIA
O ontem o hoje o amanhã
O ontem
O hoje
O amanhã
Cada dia com o seu mistério
Cada dia vivido como sendo o último
O ontem, a rotina impõe se,
o dia acaba com surpresas.
O hoje, vive se na esperança,
e o inesperado acontece.
É sempre muito bom
Estar ao teu lado
Poder ter te, sentir te
Entregar me a ti
Sentir que és minha
No verdadeiro sentido da palavra.
É sempre fantástico
A entrega mútua
O desejo que nos une
É sempre relaxante
O final desse momento
Os momentos que se seguem à entrega.
O amanhã
Esse amanhã
Ninguém sabe se lá chega.
Por isso, deixa e vem viver o hoje.
Vem ser feliz
Vem viver o momento
E abraçar me bem forte.
Quero-te aqui.
Onde somos felizes
Saudade
Saboramar
sexta-feira, 26 de abril de 2019
Miguel Esteves Cardoso, "Declaração de Amor"
Miguel Esteves Cardoso, "Declaração de Amor"
Quem é que tem a sorte de ter um amor dele ou dela que ama ou que tem, seja amado ou amada? Tenho eu e conheço muitas pessoas que já têm ou que vão ter. Mas, tal como todos os outros apaixonados e todas as outras apaixonadas, desconfio, com calor na alma, que ninguém tem o amor que eu tenho pela Maria João, meu amor, minha mulher, minha salvação.
O amor sai caro - medo de perdê-la, medo do tempo a passar, medo do futuro - mas paga-se sem se dar por isso. Mentira. Dá-se por isso só nos intervalos de receber, receber, receber e dar, dar, dar.
Basta uma pequena zanga para parecer que todo aquele amor desmoronou: "Onde está esse teu apregoado amor por mim (de mãos nas ancas), agora que eu preciso dele?"
Quanto maior o amor, mais frágil parece. Quanto maior o amor, mais pequeno é o gesto que parece traí-lo. Mas com que alegria nos habituamos a viver nesse regime de tal terror!
Maria João, meu amor: o barulho que faz a felicidade é ouvires-me a perder tempo a resmungar e a pedir que tudo continue exactamente como está, para sempre. Que nada melhore. Que não tenhamos mais sorte do que já temos. Que nada mude nunca, a não ser quando mudamos juntos. E que fiquemos sempre não só com o que temos mas um com o outro.
É este o tempo que eu quero que dure, tu és o amor que eu tenho. Nunca te demores quando estás longe de mim, tem sempre cuidado, trata-te nas palminhas, que, cada vez que olho para ti, o meu coração cresce e eu amo-te cada vez mais.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público' (14 Fevereiro 2013)
quinta-feira, 25 de abril de 2019
Levemos
para a rua a liberdade
de vermelho
Corpo de cravo
encarnado
de ilusão e devaneio
Num Portugal
maltratado por quem
lhe destrói o sonho
A promessa e o anseio
de luzeiro e de archote
a iluminar-lhe os princípios
No cumprir do passo alado
da amargura o contrário
no prosseguir libertário
de ideário e enredo
Levemos
para a rua a igualdade
com a raiz do feminino
A palavra e a poesia
de invenção e desígnio
no seu próprio labirinto
Aviso de sobressalto
entre a quimera e o perene
o quebrado e o unido
Maria Teresa Horta
quarta-feira, 24 de abril de 2019
Mia Couto
para te reconhecer mudei de corpo
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar
No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada
Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio
Mia Couto
Isabel Carvalho de Sousa
LUA
Vestes a noite
com a tua claridade núa
teu feitiço .
Vagueias em mim
pelos sentidos
e eu percorro o deserto
à procura de mim
e do mistério.
Chamo - te
envolvo - me
e sinto - te
neste eterno retorno
que me sabe a ti.
Isabel Carvalho de Sousa
terça-feira, 23 de abril de 2019
POEMA Podíamos... Nuno Júdice
POEMA
Podíamos...
Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.
Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.
Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.
Nuno Júdice
segunda-feira, 22 de abril de 2019
Isabel Carvalho de Sousa
MAGIA
Acende -se a magia nos meus olhos
e procuro - te nessa linha ténue
que o horizonte desenha ao anoitecer
acende - se a magia no negro
traçado de estrelas
e na magia das palavras por dizer
doce é perseguir um sonho
consentido nos teus olhos.
Isabel Carvalho de Sousa
domingo, 21 de abril de 2019
Maria Teresa Horta
Photo: Man Ray |
Canto o teu corpo
passados esses anos:
o prazer que me
acendes
o espasmo que semeias
A seara das pernas
o peito
os teus dentes
a língua que afago
e as ancas estreitas
Canto a tua
febre
fechada no meu ventre
Canto o teu
grito
e canto as tuas veias
Canto o teu gemido
teu hálito
teus dedos
Canto o teu corpo
amor que me encandeia
Maria Teresa Horta
Hamilton Ramos Afonso
Amar-te é...
O meu amor por ti
tal como o ar que respiro
adapta-se , com exactidão
ao espaço que ocupa...
...e vive com total conforto
no lado esquerdo do teu peito...
… acelerando e serenando
o teu coração
Hamilton Ramos Afonso
sábado, 20 de abril de 2019
Helena Guimarães
A sentir-me gente
SE EU VOLTASSE A SER NOVA
Ai! Se eu voltasse a ser nova
voltaria a fazer os mesmos erros
desde que eles me trouxessem
a vida vivida em pleno.
Voltaria a levantar as pedras
a produzir terramotos,
a desmascarar as perfídias,
a usar ventos tempestades,
o rugir do mar e as deidades,
para conseguir ser.
Ai! Se eu voltasse a ser nova
usaria a minha força
para inverter o faz de conta,
retirar a máscara à sociedade
e dizer “o rei vai nu”.
Que toda a gente parte
sempre do Zero universal
e vai fazendo o seu caminho
desenhando no cadinho
as suas diferenças.
Porque é nas diferenças
que o mundo caminha
e não numa média aritmética
de ser ninguém, só uma média,
que o mantém na vulgaridade
de ser um número da Humanidade.
Ai! Se eu voltasse a ser nova
marcaria a diferença
perante a indiferença
de ser ninguém.
Usaria o voo das aves
para dizer da vontade
de voar além das coisas,
de sonhar com o futuro
de usar as formas aladas,
as asas contra o vento
e com músculo e com alma,
desenhar um caminho
que conduzisse à Liberdade.
Ai! Se eu voltasse a ser nova
Cometia os mesmos erros.
Revelaria segredos,
conquistava altas fragas,
quebrava o mísero espelho,
e construiria um manto
que cobriria de espanto,
o mundo sem igualdade.
Desfazia degredos,
ignorância, taras, medos.
Desenhava um mundo
sem esquinas, com equidade,
sem ódio, inveja, ganância.
Um mundo de Solidariedade!
Helena Guimarães
Mário Cesariny
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco..
Mário Cesariny
Foto: Mikhail Faletkin |
minha senhora é um jardim de marfim,
cheio de flores. sob a silenciosa e grande flor da cor sutil que é o cabelo dela, o ouvido dela é uma flor frágil e misteriosa, suas narinas são flores tímidas e requintadas movendo habilmente com a mínima carícia de respiração, seus olhos e sua boca são três flores. Minha senhora é um jardim de marfim seus ombros são suaves e brilhantes flores embaixo das quais estão as novas e afiadas flores de seus seios pequenos inclinando-se para cima com amor sua mão é cinco flores em sua barriga branca há uma flor inteligente em forma de sonho e seus pulsos são os mais flores mais maravilhosas meu
Senhora está cheia de
flores
Seus pés são mais finos
Cada um é cinco flores Seu tornozelo
é uma flor
Minutos joelhos da minha senhora são duas flores Suas coxas são enormes e firmes flores da noite e perfeitamente entre eles avidamente dormindo é a flor repentina de espanto completo minha senhora que está cheio de flores é um jardim de marfim. E a lua é um jovem que eu vejo regularmente, sobre o crepúsculo, entrar no jardim sorrindo para si mesmo.
EE Cummings
Isabel Carvalho de Sousa
A PALAVRA
Há uma fogueira no interior da palavra :
um rio que corre para o sol de Março .
Estende os seus braços para a nascente
onde o sentir se espraia no caminho da fonte
e é lá que cabem todos os sonhos
vestidos de verdade.
Correm para a Foz
Abraçam a luz , onde pelo verbo
tudo se cria .
Há um horizonte aberto
e é lá que a Primavera amadurece
no interior da palavra !
Isabel Carvalho de Sousa
sexta-feira, 19 de abril de 2019
Isabel de Carvalho Sousa
SILÊNCIOS VIVOS
Guardo - te nas memórias
de um tempo de luz...
Um tempo de palavras inseguras...
de silêncios vivos
a resguardar as manhãs de azul.
No amor , profanado por esfinges
ocultam - se imagens rebatidas...
São de pedra , os olhos e as mãos ...
invadem - me as palavras ,
os sonhos
Silêncios abrem - se
na noite dos poemas
ao desabrigo das palavras.
Isabel Carvalho de Sousa
LÍLIA TAVARES, in RIO DE DOZE ÁGUAS
POEMA
Anoiteceu a tarde
pura de açucenas
procuro a transparência
da tua espera como a um abraço
que me enlace e leve
para o mais profundo de ti.
Batem as horas no sino da capela
que desconhece se é de verão ou de frio
que os sentires se vestem.
Balbucio um chamamento surdo
só o entardecer pode levar a água
deste cântico de coragem e espera.
Sei que é improvável o tocar
dos teus ombros na concavidade
do meu colo grato por me habitares,
sei que a ausência se fatiga, mas a tua não
e que são de cristal e algodão
o toque das nossas mãos.
Por uma noite, um tempo te vou esperar
pois a vida não tem horas
quando as nossas vozes roucas se procuram,
de tanto aguardar, as mãos se retorcem
para depois se acariciarem...
Não pode haver tempo nem pressa
neste livro que se permite ler devagar
pois é nas páginas em que o marcador adormece
que renasce das palavras o amor maior.
LÍLIA TAVARES, in RIO DE DOZE ÁGUAS (Coisas de Ler, 2012)
Reinaldo Ferreira
Pietá de Vincent van Gogh |
Já lívido repousa em seu regaço.
Já não escuta, não vê, não ri, não fala.
Aquele que foi Seu filho, Ela o embala
Morto, alheia a tempo e espaço. O assunto não é limiar dos assombros. Dos irados profetas, das rígidas escrituras Sobre um Deus morto; e os únicos escombros São uma aflição das criaturas. Eles choram, various, como vários são Sua revolta e sua dor. Absorto, O da Mãe escorre, inútil, no chão. Ela, o que chora? O Deus parado - ou o filho morto?
Reinaldo Ferreira
Subscrever:
Mensagens (Atom)