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terça-feira, 30 de outubro de 2018

Eugénio de Andrade






















Oh tempo tempo tempo
tempo de colher
o que temos maduro:
o lume dos olhos
a luzir no escuro


Eugénio de Andrade

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Do livro "Jardim Dizpersivo"






Canção da ausência ....
O tempo não se mede mais senão pela saudade...
Inútil as palavras para preencher
este vazio que se alonga além do mar e do infinito.
Claro que ninguém ouve,
mas, meu grito, tem subtons e densidades
que os ouvidos não escutam,
silencioso, na sua forma bruta de cortar a carne
sem deixar sinais visíveis.
Por um momento a ilusão
de que estais aqui
é mais forte que tua ausência,
então, percebo que é fruto exclusivo da demência,
deste querer que o tempo,
ou a desesperança, não extingue
e transformo em canto
como única forma de mostrar
que o meu amor ainda está vivo.

(Do livro "Jardim Dizpersivo", Editora Per Se, 2013)


Texto alt automático indisponível.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Fernando Assis Pacheco






Falei de ti com as palavras mais limpas


Falei de ti com as palavras mais limpas
Viajei, sem que soubesses, no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.

Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei da parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.

Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando, sem que soubesses, por tudo o que fazias.

Fernando Assis Pacheco  

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terça-feira, 23 de outubro de 2018

Julio Cortázar






O que eu gosto no seu corpo  
é sexo. 
O que eu gosto no seu sexo  
é a boca. 
O que eu gosto na sua boca  
é a língua. 
O que eu gosto na sua língua  
é a palavra.

Paul Éluard





certezas

Se te falo é para melhor te ouvir
Se te ouço estou certo de ter compreendido

Se sorris é para melhor me invadir
Alcanço o mundo inteiro se me sorris

Se me uno a ti é para me continuar
Se vivermos tudo será como gostamos

Se eu te deixo recordar-nos-emos
E ao deixar-nos voltaremos a reencontrar-nos


Paul Éluard   

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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Nuno Júdice
































Podia ser aí. Contigo. Com o teu corpo
ainda nu, ou vestido da luz que entra pelas
persianas velhas, trazendo a tremura
das folhas na trepadeira do quintal.

Podia ser de manhã, ou de madrugada,
sabendo que teria de te abraçar para que não
desses pelo frio, com o quarto ainda
húmido da noite, num fim de outono.

Podia não ter sido nunca, se não fossem
assim as coisas: a tua mão ao encontro da
minha, no tampo da mesa, como se fosse
aí que tudo se jogasse, entre duas mãos.


Nuno Júdice

Publicada por Ricardo- águialivre






Conhecer-te foi loucura



Recordo as horas vividas, cansadas
Chegou o Outono, a água nos ribeiros
Folhas caindo, ventos primeiros
Gotas rebeldes, ondeiam transviadas

Encontrei-te na história, vida incerta
Sonhos e fantasia, passos e esteiros
O teu olhar, versículos verdadeiros
Doação da mente, beijo na hora certa

É teu corpo a poesia, a sensibilidade
A luxuria, o momento, a suavidade
A encosta mais alta da doce ternura

Perdi-me por entre ondas, nos medos
Na carência, na magia dos degredos
Onde conhecer-te foi a maior loucura

sábado, 20 de outubro de 2018

Francisco Valverde Arsénio






Não Me Lembro / Mas Sei!


Não me lembro se chegaste a pedir para entrar nos meus dias. Mas que importa, apetece-me afundar no teu olhar e perder-me num momento que não termine nunca. Só eu sei como a voz dos teus olhos tem mais timbre que o som das gotas de orvalho… e elas caem nesta madrugada vindas do cimo de todas as flores. Enraizaste-te em mim como a neblina ao beijar a terra por cima do monte… intensamente… e os corpos evadem-se nessa bruma densa… toco-te… tocas-me a alma com esse sabor selvagem de quem está presente mesmo quando ausente… és mulher!
© Francisco Valverde Arsénio

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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Gregório Duvivier





quieto...

querer tudo é não querer 
nada é perceber que nada 
é pior que tudo e qualquer 
coisa é melhor que nada 
é melhor do que não querer 
tudo é querer uma coisa só 
pois para ser feliz é preciso 
querer uma coisa só e saber 
deitar ao lado dela - quieto.

Gregório Duvivier


Saudade






Outubro

Um mês se inicia,
com ele a brisa fresca
deixa para trás o calor
a pouca vontade de nada fazer.
Com a chegada do tempo fresco,
apetece tapar os braços,
nada melhor.... Um abraço teu
apetece sentir o calor humano
há melhor que o teu corpo?
claro que não.
em qualquer altura te desejo,
mas confesso,
Este tempo trás-me tantas saudades,
do teu corpo no meu,
de me sentir nos teus braços
de ser bom estar enroscada em ti,
por ser bom sentir o teu cheiro,
o teu calor, o teu beijo,
o teu corpo.
Como é bom ter-te.


Saudade


terça-feira, 16 de outubro de 2018

.............. Saudade






Querer é poder....

Querer é poder,
e eu quero muito,
é por isso que posso.
Sonhar é querer viver,
e eu sonho,
é por isso que quero,
viver contigo aquilo que desejamos ambos.
Nem sempre consigo o que quero,
mas não desistir é meio caminho para ter,
ter o teu corpo, o teu cheiro
saborear a tua pele faminta de mimos,
de desejo e prazer.
Querer é poder,
e eu quero-te,
por completo fazer-te arrepiar.
fazer-te desejar, mais e mais.
O meu corpo está sedento do teu,
a minha pele pede a tua,
molhada, com sabor a desejo.
Como te quero, e te desejo
como anseio estar no teu corpo
senti-lo, ver como manifesta o desejo que o consome.
Vem, seremos só nós as testemunhas deste amor.
Vem, e seremos nós a viver esse momento,
único, eterno.
Porque, querer é poder.

Saudade

........ Saudade





Outubro

Um mês se inicia,
com ele a brisa fresca
deixa para trás o calor
a pouca vontade de nada fazer.
Com a chegada do tempo fresco,
apetece tapar os braços,
nada melhor.... Um abraço teu
apetece sentir o calor humano
há melhor que o teu corpo?
claro que não.
em qualquer altura te desejo,
mas confesso,
Este tempo trás-me tantas saudades,
do teu corpo no meu,
de me sentir nos teus braços
de ser bom estar enroscada em ti,
por ser bom sentir o teu cheiro,
o teu calor, o teu beijo,
o teu corpo.
Como é bom ter-te.
Saudade

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Hamilton Ramos Afonso.





Espero-te
Nos meus lábios...
o mel da urze
em meus braços 
o perfume da alfazema
no meu peito
o coração, 
que é teu,
palpita por ambos, 
e espera-te 
no anseio de ambos
ardermos 
na fogueira 
da paixão…

Hamilton Ramos Afonso.
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Manuel Bandeira





Teu corpo claro e perfeito

Teu corpo claro e perfeito,
– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em antigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...
A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Manuel Bandeira  

Foto / arte Jones Poa
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domingo, 14 de outubro de 2018

Eugénio de Andrade





















Respira. Um corpo horizontal,
tangível, respira.
Um corpo nu, divino,
respira, ondula, infatigável.

Amorosamente toco o que resta dos deuses.
As mãos seguem a inclinação
do peito e tremem,
pesadas de desejo.

Um rio interior aguarda.
Aguarda um relâmpago,
um raio de sol,
outro corpo.

Se encosto o ouvido à sua nudez,
uma música sobe,
ergue-se do sangue,
prolonga outra música.

Um novo corpo nasce,
nasce dessa música que não cessa,
desse bosque rumoroso de luz,
debaixo do meu corpo desvelado.



Eugénio de Andrade

sexta-feira, 12 de outubro de 2018







" Mélicos tormentos "

 🌼
Numa doce, e tão realista quimera
Inundada de flores de primavera
Conto as pétalas, alvas, enquanto sonho
Como quem sente a firmeza
De uma eterna convicção
De vir a ser então por gentileza
A Deusa do teu jardim de inspiração,
Sinto no aveludado das folhas
Partículas do carinho, que não confessas
Mas que nos meus sonhos entra.
.
És a pureza do meu eterno pensamento
Quando nos meus sonhos mais profundos
São mélicos, os meus tormentos,
Por isso meu amor, não me impeças
De poder continuar com este sonho,
Em cada pétala peço um desejo
Num sorriso envergonhado, que não vês
Quando conto as horas em segundos
E acordo na fantasia do teu beijo
Mas sobrevivo aos devaneios, outra vez!

 💖
🌼Autora: Larissa Santos 

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

E, vem agora, Theophile Gautier







Dernier voeu                  
Theophile Gautier

Voilà longtemps que je vous aime
- L'aveu remonte à dix-huit ans! -
Vous êtes rose, je suis blême;
J'ai les hivers, vous les printemps.

Des lilas blancs de cimetière
Près de mes tempes ont fleuri;
J'aurai bientôt la touffe entière
Pour ombrager mon front flétri.

Mon soleil pâli qui décline
Va disparaître à l'horizon,
Et sur la funèbre colline
Je vois ma dernière maison.

Oh! que de votre lèvre il tombe
Sur ma lèvre un tardif baiser,
Pour que je puisse dans ma tombe,
Le cœur tranquille, reposer!

O ÚLTIMO DESEJO

Faz tanto tempo que te amo
-Dezoito anos atrás são muitos dias!-
És de cor rosa e eu sou pálido;
Eu sou inverno e tu, a primavera.

Liláses brancos como em um cemitério
em torno de meus templos floresceram;
e logo invadiram todo o cabelo
marcando minha testa já murchinha.

Meu sol descolorido que declina
no fim se perderá no horizonte,
e, na colina fúnebre, na distância,
já posso ver minha última casa.

Oh! Deixa, ao menos, que caía dos teus lábios
sobre os meus lábios um beijo tardio
para que assim, uma vez, no meu túmulo,
em paz, meu coração possa dormir!

Ilustração: HypeScience.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Ricardo- águialivre






Apetece-me viajar por entre as raias do teu sonhar


Apetece-me viajar por entre as raias do teu sonhar
Amanhecer deitado na nobreza do teu sentimento
Serenamente absorver toda a doçura do teu olhar
Fazer do teu carinho o elixir do meu pensamento
.
Apetece-me trilhar admirando secas folhas caídas
Pelo abandono das pétalas da leviana melancolia
Sentir no meu peito tuas lágrimas finas e sentidas
Seres a luz do meu alento, feito brilho do meu dia
.
Apetece-me caminhar entre ventos e favos de mel
Como a abelha adeja em jardim de aromada flor
Sentir tua ternura esquecida de uma relação cruel
E em silêncio, saber dizer-te: Amo-te meu amor

Ricardo- águialivre
Texto alt automático indisponível.



sábado, 6 de outubro de 2018

Cidália Ferreira






És o meu farol, o meu mar de emoções...

Anoiteceu e o meu farol iluminou
Todos os meus pensamentos ocultos
Todas as impressões existentes
E todos os medos
Que subsistem dentro do meu eu

Existem faróis muito importantes
E tão imponentes
Quanto o significado que tens em mim
Existem ondas que parecem amantes
Amantes... um gosto tão meu

Existem luzes tão longínquas
Que podem galgar outros horizontes
Outros mares, outros corações
Nem que para isso se construam pontes
Se selem abraços, se sintam emoções

Mas és, exclusivamente, o farol de luz
Que me ilumina nas noites perdidas
E no mar me protege das ondas perigosas
Mesmo, sendo elas as mais luminosas
Mas és tu, o farol luminoso que me seduz.

Cidália Ferreira.

Ricardo águia-livre





Conhecer-te foi loucura



Recordo as horas vividas, cansadas
Chegou o Outono, a água nos ribeiros
Folhas caindo, ventos primeiros
Gotas rebeldes, ondeiam transviadas
.
Encontrei-te na história, vida incerta
Sonhos e fantasia, passos e esteiros
O teu olhar, versículos verdadeiros
Doação da mente, beijo na hora certa
.
É teu corpo a poesia, a sensibilidade
A luxuria, o momento, a suavidade
A encosta mais alta da doce ternura
.
Perdi-me por entre ondas, nos medos
Na carência, na magia dos degredos
Onde conhecer-te foi a maior loucura

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Eugénio de Andrade







Photo: Man Ray
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha. 



Eugénio de Andrade




Onde tu pousares as tuas mãos eu quero estar







Onde tu pousas as mãos,

naturalmente
eu vou pousar as minhas. Um silêncio
faz-se pela casa, uma luz coada vem da janela
e cobre os móveis de uma poalha
doirada. Os objectos estão quietos
como nunca.

Onde tu pousas as mãos,
onde tu pousas mesmo se brevemente as mãos,
torna-se íntima a percepção que se tem de cada hora,
de cada amanhecer,
de cada exacto momento. O entardecer
é só um vasto campo que se abre,
um rumor de folhas que restolham no jardim.

Escrever é ler,
ler é escrever - eu sei isso
porque em cada sítio onde [do meu corpo] tu pousaste as tuas mãos
ficou escrito - eu vejo-o: nítido -
sobre o mais frágil espelho dos sentidos, uma palavra que se lê
de trás para diante. Quando te deitas eu sinto-lhe o perfume,
que é o da noite que entra pela janela.

E onde tu pousas as tuas mãos faz-se um rio
de prata e de quietude mesmo nas minhas mãos
que pousam onde as tuas foram antes procurar
a quietude, procurar as tuas mãos. São exactas as tuas mãos,
são necessárias, têm dedos
que são os filamentos de gestos que descrevem na penumbra
desenhos tão perfeitos que surpreendem.

Onde tu
pousares as tuas mãos
eu quero estar.
Exactamente como a sombra
cai na sombra. A água
na água. O pão
nas mãos.





Bernardo Pinto de Almeida