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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Maria Rosário Pedreira //// Romance....


Romance

Num romance, uma chávena é apenas
 uma chávena - que pode derramar
 café sobre um poema, se o poeta,
 bem entendido, for a personagem.

Num poema, mesmo manchado
 de café, a chávena é certamente a
 concha de uma mão - por onde eu
 bebo o mundo, em maravilha, se tu,
 bem entendido, fores o poeta.

No nosso romance, não sou sempre eu
 quem leva as chávenas para a mesa
 a que nos sentamos à noite, de mãos
 dadas, a dizer que a lata do café chegou
 ao fim, mas a pensar que a vida é
 que já vai bastante adiantada para os
 livros todos que ainda pensamos ler.

No meu poema, não precisamos de café
 para nos mantermos acordados: a minha
 boca está sempre na concha da tua mão,
 todos os dias há páginas nos teus olhos,
 escreve-se a vida sem nunca envelhecermos.

 
Maria Rosário Pedreira  

 


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