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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Bicarbonato de soda





Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!
Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir ...

Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,

Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconsequência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

Dêem-me de beber, que não tenho sede!

Álvaro de Campos

Foto: Dylan Ricci

2 comentários:

OutrosEncantos disse...

opsssss.... que coisa moçoooo!!!!
assim não dá... p'ra prestar atenção ao poema... ;))
[brincadeira ;)]

bastante reflexivo este poema de Alvaro Campos...!
...de verdade que você acha que eu tenho alguma razão?!!!! hummm...

óptimo este teu post, para quem tenha alma com olhos de longo alcance. desculpa eu andar um pouco sarcástica...

beijo meu, querido amigo.

OutrosEncantos disse...

p.s. - magnifica a sucessão de músicas do momento :))