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domingo, 31 de julho de 2011

De :loy Sánchez Rosillo



Cuerpo dormido

Eloy Sánchez Rosillo

A veces recuerdo la tibieza de aquellos días,
la gracia de aquel cuerpo dormido,
la blancura del lecho en un rincón del cuarto,
el libro abandonado, entreabierto,
la lámpara sumisa, la ventana,
el sonido lejano de la lluvia,
los lentos rumores de la noche.
y pienso entonces que fue hermosa la vida,
y acaricio en mi pecho las heridas del tiempo.

25 de agosto de 1975

Corpo adormecido

Às vezes eu me recordo do calor daqueles dias
a graça daquele corpo adormecido
a brancura do leito num canto do quarto,
o livro abandonado, entreaberto,
a lâmpada submissa, a janela,
o som distante da chuva,
os lentos rumores da noite.
e penso, então, que foi formosa a vida,
e acaricio em meu peito as feridas do tempo.

sábado, 30 de julho de 2011

Um poema de amor ....





Não sei onde estás, se falas
ou se apenas olhas o horizonte,
que pode ser apenas o de uma
parede de quarto. Mas sei que
uma sombra se demora contigo,
quando me pergunto onde estás:
uma inquietação que atravessa
o espaço entre mim e ti, e
te rouba as certezas de hoje,
como a mim me dá este poema.

Nuno Júdice

Imagem retirada do google

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sonho Azul




Voando
fechado no tempo,
Encontro momentos há muito perdidos.
Nos vales do paraíso
Infiltro a magia da liberdade
Nas veias da imaginação
E navego pela leveza do esplendor.
Acendo a tocha da reflexão
Embalo os sentimentos nos fluidos do silêncio
E abro a janela da criação

Vem comigo desvendar os mistérios da primavera
Delicadamente sentada no brilho das águas cristalinas,
Vaguear por entre os sons da inocência
E saborear a profundidade da beleza do carinho.
Vem decifrar as doces linhas dos enigmas
Que se escondem na beleza dos murmúrios do vento
E nas cores quentes do por do sol.
Vem percorrer as ondas do magnetismo absorvente
Do brilho dos olhares apaixonados pela sensual motivação
Da união de dois sentimentos.
Vem absorver essas gotas criadoras de sonhos interruptos
Que derrubam montanhas inexploráveis
Criando riachos por onde deslizas delicadamente deitada.
Vem provar o amor.

Jorge Viegas

Foto retirada do Google

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Poema :








Imagina…..

E se este compasso musical se transformasse em água pura ?



Neste segundo compasso musical continua a existir água fresca.

Água pura, água muito transparente. Belíssima.

A água fresca é sempre maravilhosamente refrescante.

Maravilhosa água fresca. Maravilhosa água fresca caindo sobre mim.

Descendo em fio sobre o corpo nu, que arrepio tão saudável.
Gota a gota, a frescura penetra a pele e a carne desnudas,
Sonhos de frescura
,
Êxtase. Pérola a pérola, gota a gota, escorrendo, leve...

Carícia inconfundível,

Sonho de uma mulher permanecer sempre sentindo esta água.

Como uma onda suave rolando no seu corpo.


E se esta água pura se transformasse num compasso musical?

Poema de Susana Flor

Porto-21-04-2009

quarta-feira, 27 de julho de 2011

NA SEGUNDA INFÂNCIA.....


Criança Sedenta

Se for inverno ou verão
Eu bebo como se fosse primavera.
É a vida
E a vida tempo bom não espera
Segue em frente
Qualquer que seja o tom,
A música, o ritmo diferente
Para nos fazer dançar.
O amanhã?
O amanhã que importa?
Hoje, por favor, abre tua porta,
O leite, a cama,
O peito macio me oferece,
Com a sofreguidão de quem ama,
Que prometo ser santo
E, como uma criancinha de colo,
Beber leite
Tanto, tanto, tanto...

Agradecimento


A todos/as cibernautas de:


Portugal , Brasil , USA , Switzerland , Germany , Japan , Span , Israel , etc , os meus agradecimentos para os/as que comentam e mesmo os que só me " espreitam ".

terça-feira, 26 de julho de 2011

Fascínio........................




Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.
Não deveria, dizem.
Me esforço. Aliás,
já nem me esforço.
Abertamente me ponho a admirá-las.
Não estou traindo ninguém, advirto.
Como pode o amor trair o amor?
Amar o amor num outro amor
é um ritual que, amante, me permito.

Affonso Romano de Sant'Anna

Foto:Ira Bordo

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Poema do amor.....




Este é o poema do amor.

O poema que o poeta propositadamente escreveu
só para falar de amor,
de amor,
de amor,
de amor,
para repetir muitas vezes amor,
amor,
amor,
amor.
Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico
contar as palavras que o poeta escreveu,
tantos que,
tantos se,
tantos lhe,
tantos tu,
tantos ela,
tantos eu,
conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu
foi amor,
amor,
amor.

Este é o poema do amor.

António Gedeão

Valsinha .... de dois grandes do Brasil....





Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.

Vinícius de Moraes/Chico Buarque

domingo, 24 de julho de 2011

Nas ervas .....de............



Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

Eugénio de Andrade

Foto:Sergey Ryzhkov

Rebeldia ( manifesto contra o imperativo não categórico) .....




Odeio o uso do modo imperativo.
Se me dizem, cala-te!, eu canto.
Se me dizem esconde-te!, eu exponho-me.
Quando me ordenam que me vista, me desnudo.
Se me mandam expor, vou pró meu canto.
Quando me querem falante, eu sou muda.
Se me fazem gritar, eu silencio.
Se me tentam excitar eu fico queda,
Se me querem gelada, fico em cio.

Sou égua de raça pura e alma leda,
Crinas ao vento e ventas de fome,
À espera de um jokey que me dome.

Quem julga que me domou, bem se engana.
Que eu só sonho... na minha própria cama.

Maria Seixas

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Poeminha Amoroso



Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Cora Coralina

Foto:Jeanloup Sieff

Ecloga




Sonhei
contigo embora nenhum sonho
possa ter habitantes, tu a quem chamo
amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a
esta palavra. É verdade o sonho
poderá ter feito com que, nesta
rarefacção de ambos, a tua presença se
impusesse - como se cada gesto
do poema te restituísse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus
lábios com o rebordo desta chávena
de café já frio. Então, bebo-o
de um trago o mesmo se pode fazer
ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -
terra, água, nuvens, rios e
o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência
da fontes. É isto, porém, que
faz com que a solidão não seja mais
do que um lugar comum saber
que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me
responda quando, uma vez mais
te chamo.

Nuno Júdice

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Bicarbonato de soda





Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!
Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir ...

Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,

Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconsequência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

Dêem-me de beber, que não tenho sede!

Álvaro de Campos

Foto: Dylan Ricci

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Rosa do deserto




Ringtones Send "Desert Rose (tradução)" Ringtone to your Cell Ringtones


Perdido em uma terra varrida pelo vento
Em um mundo de pegadas na areia
Uma flor frágil estava separada
Lá, naquele chão estéril
Você sente como se fosse o único
Tentando servir a Ele de todo seu coração.

E você deseja saber, deseje saber
Pode você suportar por mais tempo?
Esta nuvem debaixo da qual você está
Irá cobrir você.

Rosa do Deserto (rosa do deserto)
Não se preocupe, não esteja só
Os céus sabem, os céus sabem
Em uma terra seca e cansada cresce uma flor
Sua rosa do deserto

Às vezes a santidade
Pode parecer uma ostentação
Quando você sente o olhar risonho de todo mundo
Mas se é um dia desolado
Saiba você está no caminho do Pai
Ele o ouvirá quando você chorar.

E Ele o sustentará, sustentará você
Seu Pai o sustentará
Ele o amará, amará você
Pelas coisas que você faz.

Rosa do Deserto (rosa do deserto)
Não se preocupe, não esteja só
Os céus sabem, os céus sabem
Em uma terra seca e cansada cresce uma flor
Sua rosa do deserto


Sting

Titulo por haver....



No meu poema ficaste
de pernas para
o ar
(mas também eu
já estive tantas vezes)

Por entre versos vejo-te as mãos
no chão
do meu poema
e os pés tocando o título
(a haver quando eu
quiser)

Enquanto o meu desejo assim serás:
incómodo estatuto:
preciso de escrever-te
do avesso
para te amar em excesso

Ana Luísa Amaral

terça-feira, 19 de julho de 2011

Meu amor.....



Argumento

Por seres, como és, tão mansa,
Muitas vezes não imagino
Como podes ser
Tão imensamente forte quanto és,
Porém, mesmo distante,
Sou um amante aos teus pés
Que pode até te incomodar
Com o silêncio e a falta de palavras,
Que dizes ser tão poderosa,
No entanto, sou o que sou, o espinho.
Tu, tu és a rosa.
E só teu perfume e beleza
Me faz crer que a vida
É tão boa de se viver!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

É urgente que as pessoas se amem ....






É urgente que as pessoas se amem
sem vergonha e sem tristeza
Que se amem com orgulho
Com a alegria pagã da joie grega

É urgente que as pessoas não se escondam
por detrás das outras pessoas
das ideias das outras pessoas
dos muros espessos do medo

É urgente que as pessoas se amem

É urgente partilhar o pão e o corpo
com a claridade da terra molhada
nas manhãs de sol

É urgente assumir a verdade


Manuela Amaral



De onde chegam estas palavras?





De onde me chegam estas palavras?

Nunca houve palavras para gritar a tua ausência

Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto doía no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a Primavera
refaz o seu vestido de corolas.

E não havia um nome para a tua ausência.

Mas tu vieste.

Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?

Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.

Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.

Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.

Joaquim Pessoa

domingo, 17 de julho de 2011

O teu nome......




Flor de acaso ou ave deslumbrante,
Palavra tremendo nas redes da poesia,
O teu nome,como o destino,chega,
O teu nome,meu amor,o teu nome nascendo
De todas as cores do dia!


Alexandre O'Neill

Foto:Yoyce Tenesson

Quem?...





Não sei quem és. Já te não vejo bem...
E ouço-me dizer ( ai, tanta vez!...)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?

Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?...
- Não sei se tu, Amor, assim me vês!...
Nossos olhos não são nossos, talvez...
Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...

És tudo e não és nada... És a desgraça...
És quem nem sequer vejo; és um que passa...
És o sorriso de Deus que não mereço...

És Aquele que vive e que morreu...
És Aquele que é quase um outro Eu...
...
És Aquele que nem sequer conheço...

Florbela Espanca


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ausência





Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


Sophia de Mello Breyner e Andresen

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cantigas Leva-as o Vento...





A lembrança dos teus beijos
Inda na minh' alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desaparecido
Revive numa saudade


Florbela Espanca

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O mínimo de nós dois




No pequeno espaço
entre teu olhar e o meu
brilha a estrela do desejo
que nos guia um para o outro

Na ausente distância
entre teus lábios e os meus
brincam e fundem-se os hormônios
da nossa química mais secreta

No mínimo silêncio
onde somente nossos corpos falam
deslizam mãos em carícias
de tatos cegos que tudo dizem

No fugaz e eterno momento
da consumação de nosso amor
gritam gargantas no gozo do prazer
da quase dor desse explodir...

Camila Sintra

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo .....




Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo
é tudo serem para mim estradas largas
estradas onde passa o sol poente
é o tempo parar e eu próprio duvidar mas sem pensar
se o tempo existe se existiu alguma vez
e nem mesmo meço a devastação do meu passado.

Ruy Belo

Foto:Tomasz

O ar dentro do grito



Exerce sobre mim todos os teus poderes,
os mais avassaladores e brutais,
os que deixam na carne a marca sem resgate
de uma morte prometida em cada gesto
e dá-me a perceber que
sempre que te toco é, afinal, o fogo
que estou a tocar, como se quisesse
bordar um monograma de lava
no lenço que cala o queixume dos lábios.
Deixa-me dos teus poderes
somente um rumor ou um aroma,
a inexprimível tentação que os faz
serem tão perenes e secretos,
tão sôfregos de entrega e infinito,
e depois derrota-me na arena
dos teus braços como tenazes de vento
sufocando nesta boca
o sopro que aprisiona o ar dentro do grito.

José Jorge Letria

Imagem retirada do Google

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Julian del Casal




Ruego

Julián del Casal

Déjame reposar en tu regazo
el corazón, donde se encuentra impreso
el cálido perfume de tu beso
y la presión de tu primer abrazo.

Caí del mal en el potente lazo,
pero a tu lado en libertad regreso,
como retorna un día el cisne preso
al blando nido del natal ribazo.

Quiero en ti recobrar perdida calma
y rendirme en tus labios carmesíes,
o al extasiarme en tus pupilas bellas,

sentir en las tinieblas de mi alma
como vago perfume de alelíes,
como cercana irradiación de estrellas.

Rogo

Deixa-me repousar no teu regaço
o coração, onde se encontra impresso
o cálido perfume de teu beijo
e a pressão de teu primeiro abraço.

Caí do mal em poderoso laço,
porém, a teu lado em liberdade regresso,
como retorna um dia o cisne preso
ao macio ninho, o seu natal berço.

Quero em ti recobrar a perdida calma
e render-me a teus lábios carmezins
ou ao êxtase de teus olhos belos,

sentir na escuridão da minha alma
como um vago perfume de jasmins,
como próximas irradiações de estrelas.

De : helena guimaraes Ausencia



 AUSÊNCIA

AUSÊNCIA

Morro de ausência,

do veneno do nada.

Ave de infinito

na rocha parada

a olhar sem vontade

o horizonte.

Garras de impotência,

a saudade num grito

de silêncio, construído

de lágrimas de memória,

com o mar ali de fronte.

Forma pelos dedos

desenhada

de um sonho tornado

efémero, sem glória.

A beleza de um hino

que preencheu a vida,

rompeu em segredo

as fronteiras do corpo,

bebeu o divino

e se fez vazio;

um vazio de ausência

em que sem sentido

morro do veneno do nada.


De: Helena Guimaraes

domingo, 10 de julho de 2011

Isso me chega.....


Pequeno poema de amor II



Pouco sei de ti,
ou dos que antes naufragaram
nesta praia negra.

Sei que muitos anos se passaram
sem estares aqui,
em que a noite e o silêncio foram regra.

Esquecerei que as estrelas se apagaram
se a tua luz iluminar o que não vi.
Isso me chega.

Manuel Filipe

Foto:Zacarias Pereira da Mata

sábado, 9 de julho de 2011

Sinto que .......

O meu orgulho




Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui a Primavera
Que em muros velhos fez nascer as rosas!

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas... Quem soubera
Pois que tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem...
Mas digo para mim: «Não me merecem...»
E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E que também é nobreza não ser nada!


Florbela Espanca

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nem de proposito......

Chovia... chovia...



Naquela tarde, como chovia!

Me lembro de que a chuva caía
lá fora
sem parar,
e seu surdo rumor até parecia
um sussurro de quem chora
ou uma cantiga de embalar...

Me lembro que tu chegaste
inquieta, ansiosa,
mas logo te aconchegaste
em meus braços, quietinha...
(...enrodilhada como uma gatinha...)

E eu quase não sabia o que fazer:
se de encontro ao meu peito te deixava adormecer...
se te mantinha acordada, para seres minha...

Me lembro que chovia... chovia sem parar...
E que a chuva caía a turvar as vidraças
anoitecendo o quarto em seus tons baços...

Me lembro de que te sentia
aconchegada em meus braços...

Me lembro que chovia...
E de que era bom porque chovia,
e porque estavas ali, e porque eu te queria...
Sim, me lembro que tudo era bom...
E que a chuva caía, caía,
monótona, sem parar,
naquele mesmo tom...

Naquela tarde, amor, como chovia!

Agora, quando longe de ti, nem sou mais eu
em minha melancolia,
não posso mais ouvir a chuva cair
que não fique a lembrar tudo o que aconteceu
naquele dia...

Naquele dia...
enquanto chovia...

J. G. de Araújo Jorge



Imagem retirada do Google

Gabriel Zaid



Canción de seguimiento

Gabriel Zaid

No soy el viento ni la vela
sino el timón que vela.

No soy el agua ni el timón
sino el que canta esta canción.

No soy la voz ni la garganta
sino lo que se canta.

No sé quién soy ni lo que digo
pero voy y te sigo.

Canção do seguimento

Eu não sou o vento nem a vela
sim o timão que vela.

Não sou a água nem o timão
sim quem canta esta canção.

Não sou a voz nem a garganta
sim o que canta.

Não sei quem sou nem o que digo
porém, vou e te sigo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Lindíssimo....De : Helena Guimarães

SEARAS E PAPOILAS

SEARAS E PAPOILAS -1

Era uma vez….
Assim começam as histórias
que nos contam as glórias
dos heróis, ou os devaneios
da nossa imaginação.
Era uma vez,
(A história começa assim)
uma borboleta de asas brancas
tão finas como cambraia
que em voo saltitante,
passeava radiante
por um belo campo de trigo.
Pareceu-lhe um bom abrigo!
A seara ondeava calma
até além, ao horizonte,
cabelos de ouro fino
penteados pela brisa.
Mar doirado que desliza
em murmúrio ao sol de Verão.
Aqui e ali, pontos escarlate,
as papoilas abrem as corolas,
húmidas, macias de cetim.
-Hei, borboleta, diz a espiga,
pousa em mim tua candura
vem partilhar minha doçura
eu e as minhas companheiras
somos úteros de pão.
Vem degustar o meu grão
que dá a vida para ser sustento.
Em gargalhada sonora
responde atrevida a papoila
torcendo os estames amarelos,
a mostrar os seus carpelos.
- Tu és pálida, sem encantos,
teu perfume é a farinha
tens barbas que magoam asas.
Eu sou húmida e macia
e vermelha de paixão.
- Mas és papoila dormideira!
Na tua cor escarlate,
no néctar maligno e doce
dormita a mão da Ceifeira.
Virou-lhe a papoila a corola,
na sua haste elegante
mostrando-lhe o seu melindre.
- Borboleta, és tão bela,
pareces um anjo voando
dá-me o teu beijo de amor
dar-te-ei a minha cor
conhecerás a paixão
e ao calor deste sol
viveremos nos amando.

(Ninguém lhe falara assim!)
mirou a corola de cetim,
pousou cansada e incauta
sorveu o néctar num beijo,
saciou o seu desejo.
Num adejar lento e breve
uniu as asas, morreu.
Naquela loira seara,
aquele ponto escarlate
ficou manchado de neve.
Uma incauta mariposa
morreu de amor e desejo
apenas, e só, por um beijo!


Helena Guimarães

De : Cesario Verde




Eu que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa de um café devasso,
Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,
Nesta babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorrestes um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, sudável.

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
...
Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar o teu peito.

Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.

«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, parastes embaraçada
Ao pé de um numeroso ajuntamento,

E eu, que urdia estes frágeis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Um pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.

E foi, então que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.

De joaquim pessoa

Outono

Uma lâmina de ar

Atravessando as portas. Um arco,

Uma flecha cravada no outono. E a canção

Que fala das pessoas. Do rosto e dos lábios das pessoas.

E um velho marinheiro, grave, rangendo o cachimbo como

Uma amarra. À espera do mar. Esperando o silêncio.

É outono. Uma mulher de botas atravessa-me a tristeza

Quando saio para a rua, molhado, como um pássaro.

Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe se

Da minha revolta última. Ou do teu nome que repito.

Hoje há soldados, eléctricos. Uma parede

Cumprimenta o sol. Procura-se viver.

Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.

Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-se

Como se, de repente, não houvesse mais nada senão

A imperiosa ordem de (se) amarem.

Há em mim uma ternura desmedida pelas palavras.

Não há palavras que descrevam a loucura, o medo, os sentidos.

Não há um nome para a tua ausência. Há um muro

Que os meus olhos derrubam. Um estranho vinho

Que a minha boca recusa. È outono.

A pouco a pouco despem-se as palavras.



quarta-feira, 6 de julho de 2011

Entre Dois Amores, de Rosana Braga

Nota: este texto foi roubado....de um blog e coloco-o aqui porque o achei interessante.



Este é o nome (em português) do original “Out of Africa”, filme de Sidney Pollack que conquistou 7 Oscars, entre outros prêmios. Só a atuação da brilhante Meryl Streep já valeria, mas, além disso, o tema é polêmico, já mexeu e continua mexendo com a vida de muitas pessoas.

Durante muito tempo, alimentei a crença de que é impossível gostar de duas pessoas simultaneamente. Que dirá, então, amá-las! Não que tenha mudado completamente de opinião; muito pelo contrário: permito-me uma fase de menos convicções e muito mais reflexões.

Antes de bater o martelo entre o ‘sim’ e o ‘não’ tenho, sobretudo, me empenhado - sempre que possível - em aprender a digerir os fatos e os sentimentos. Claro que, a despeito do que vou escrever agora, não estou aqui para defender a mentira ou a hipocrisia, mas para valorizar a capacidade de fazer escolhas de modo mais consciente.

Certa vez, escrevi um artigo chamado “A vida é feita de escolhas e o amor é uma delas”. Neste caso, continuo convicta: a vida é feita de escolhas. Mas sabemos que nem sempre é fácil fazer uma, especialmente quando as conseqüências são tão intangíveis e imponderáveis, como no amor...

Assim como não é fácil, algumas vezes, optar entre o comprometimento e o solteirismo, também pode acontecer de você gostar ou ser gostado por duas pessoas ao mesmo tempo. E aí, é hora de ponderar!

Alimentar dois ou mais relacionamentos paralelos por tempo indeterminado não me parece a atitude mais digna, a menos que todos os envolvidos saibam desta escolha e possam decidir se querem fazer parte dela ou não. (Sei que acabei de fazer um julgamento de valor e que nem todos são obrigados a concordar comigo, mas enfim, exponho o que penso).

Sendo assim, a pergunta que mais se repete é: quando a dúvida surge e teima em confundir nossos desejos, como escolher entre uma pessoa e outra sem experimentá-las? E aqui, o verbo “experimentar” quer dizer conhecer, aproximar-se para saber mais sobre tais pessoas.

Realmente... não é fácil! Mas será preciso, mais cedo ou mais tarde, arriscar, fazer a escolha e ver no que dá! E enquanto isso?!? Bom, enquanto isso, observe, sinta, reflita, permita-se uma aproximação com o intuito de se decidir.

Talvez seja este o grande segredo, a grande diferença: algumas pessoas cultivam duas relações ao mesmo tempo para seu bel prazer ou para esconder sua enorme insegurança. Aqui, especificamente, não estou falando de optar pelas duas e sim de se dar um tempo até que você consiga perceber melhor o que realmente quer.

Claro que se esta situação acontece com uma pessoa solteira ou que apenas namore, fica muito mais simples vivenciar esses sentimentos sem colocar em risco tantas conquistas relevantes. Mas quando acontece com uma pessoa casada, onde muitos outros detalhes entram em jogo, a situação é bem mais delicada e merece um cuidado muito maior.

Portanto, se o trono do seu coração está servindo, neste momento, para uma espécie de “dança das cadeiras”, sendo que você ainda não sabe quem vai se sentar nele quando a música parar, sugiro que você selecione a tecla “repetir”, deixando a música tocar algumas vezes seguidas, até que consiga pará-la no momento em que seu preferido estiver diante dela...

No mais, procure agir tão dignamente quanto dignos são os seus sentimentos!

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela




Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

Foto:Yuri B

terça-feira, 5 de julho de 2011

De onde chegam estas palavras?




-De onde me chegam estas palavras?

Nunca houve palavras para gritar a tua ausência

Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto dóia no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.

E não havia um nome para a tua ausência.

Mas tu vieste.

Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?

Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.

Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.

Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.

Joaquim Pessoa