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terça-feira, 11 de julho de 2023

Paul Éluard

 

JUL

Ser como uma criança como tu o és
Grande como uma criança quando és razoável
Quando te fazes passar por crescida 
Quando fazes cair o céu sobre a mesa 
Num gesto mais ensaiado do que o das estações 
Quando prestes a tudo criar tu decides imitar 

Quando me fazes rir de um riso 
Com apaixonada piedade.

Vieste a mim pelos caminhos da infância
Grave como a erva e e uma andorinha 

O meio da noite das manhãs ficou manchado de aurora 
O crepúsculo destapando prudentemente a sombra

Para afugentar as bestas negras.

Eu entrei na dança 
Da tua vida apesar dos tempos

Eu dou-te o tempo para viver 
E o tempo de ter vivido 
Tu dás-me o tempo de ser 
Contigo uma criança.

Mesmo que o inverno afie os galhos
Para agarrar a morte sonhada
Mesmo que colheitas pavorosas 
Encham o leito dos rios
Mesmo que a geada discipline a carne
Em ti apenas encontro a promessa da juventude.

E eu sei que é meu dever amar-te
O inverno cruza-se com o verão 
Uma folha morta cai num banho de azul.

E eu respiro e me duplico 
Com o ar que corre para a primavera 
Desertos e ruínas de um mau tempo 
Purificam o alvorecer das colheitas.

Eu amo-te trago nas vértebras 
A emancipação das trevas


Paul Éluard (tradução Rui Amaral Mendes)






Saúde. Serenidade. Paz.


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