JUL
Ser como uma criança como tu o és
Grande como uma criança quando és razoável
Quando te fazes passar por crescida
Quando fazes cair o céu sobre a mesa
Num gesto mais ensaiado do que o das estações
Quando prestes a tudo criar tu decides imitar
Quando me fazes rir de um riso
Com apaixonada piedade.
Vieste a mim pelos caminhos da infância
Grave como a erva e e uma andorinha
O meio da noite das manhãs ficou manchado de aurora
O crepúsculo destapando prudentemente a sombra
Para afugentar as bestas negras.
Eu entrei na dança
Da tua vida apesar dos tempos
Eu dou-te o tempo para viver
E o tempo de ter vivido
Tu dás-me o tempo de ser
Contigo uma criança.
Mesmo que o inverno afie os galhos
Para agarrar a morte sonhada
Mesmo que colheitas pavorosas
Encham o leito dos rios
Mesmo que a geada discipline a carne
Em ti apenas encontro a promessa da juventude.
E eu sei que é meu dever amar-te
O inverno cruza-se com o verão
Uma folha morta cai num banho de azul.
E eu respiro e me duplico
Com o ar que corre para a primavera
Desertos e ruínas de um mau tempo
Purificam o alvorecer das colheitas.
Eu amo-te trago nas vértebras
A emancipação das trevas
Paul Éluard (tradução Rui Amaral Mendes)
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