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terça-feira, 25 de julho de 2023

Herberto Helder

 

JUL

Um poema cresce inseguramente 
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, 
talvez como sangue 
ou sombra de sangue pelos canais do ser. 

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência 
ou os bagos de uva de onde nascem 
as raízes minúsculas do sol. 
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis 
do nosso amor, 
rios, a grande paz exterior das coisas, 
folhas dormindo o silêncio
-  hora teatral da posse.

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. 

E já nenhum poder destrói o poema. 
Insustentável, único, 
invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das coisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora 
a espinha do mistério. 

- E o poema faz-se contra o tempo e a carne. 


Herberto Helder





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