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sábado, 22 de abril de 2023

Pablo Neruda

 

Photo: Man Ray



Das tuas ancas aos teus pés 
quero fazer uma longa viagem. 

Sou mais pequeno do que um insecto. 

Vou por estas colinas, 
são da cor da aveia, 
têm ténues trilhos 
que só eu conheço, 
centímetros queimados, 
pálidas perspectivas. 

Aqui há uma montanha. 
Nunca a deixarei. 
Oh que musgo gigante! 
E uma cratera, uma rosa 
de fogo humedecido! 

Desço pelas tuas pernas 
tecendo uma espiral 
ou dormindo na viagem 
e chego aos teus joelhos 
de uma redonda dureza 
como aos duros cumes 
de um claro continente. 

Resvalo até aos teus pés, 
às oito aberturas 
dos teus dedos agudos, 
lentos, peninsulares, 
e deles caio no vazio 
do branco lençol, 
procurando cego 
e faminto o teu perfil 
de vasilha escaldante.


Pablo Neruda





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