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quinta-feira, 13 de abril de 2023

Luís Filipe Parrado

 

Depois das obrigações e do trabalho 
a noite consente a ilusão. Agora 
queria sair, ser destemido como Marlowe,
entrar num bar, desfrutar da beleza 
das mulheres fatais,
gozar o prazer do fumo de múltiplos cigarros,
quem sabe arriscar e, por uma noite
- e bem podia ser esta a noite -, ter a sorte do meu lado 
no póquer incerto das horas tardias. Só depois 
regressaria a casa, exausto 
mas feliz por me saber perfumado
pelo assombro profundo, maravilhoso, decadente 
da madrugada. Decido 
porém ficar à secretária, acender
a luz baixa do abat-jour, ler algumas páginas 
de Chandler e escrever nas margens
estas palavras - pedras lançadas à água,
círculos que se expandem - cujo mérito principal 
é o de mostrar, uma vez mais,
como eu não soube, ou não quis, escolher 
viver a minha vida.


Luís Filipe Parrado




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