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segunda-feira, 3 de abril de 2023

Matilde Campilho

 

Os garçons empilhando as cadeiras 
você me olhando e me pedindo que 
fale Por Favor Fale Mas Não Escreva
eu evitando o toque ruim dos ponteiros 
do relógio que anuncia a já famosa fuga
de nossos corpos cada um para sua 
ponta da cidade - se nosso amor fosse 
revólver eu seria o cabo e você a mira
tal como dizia a professora Sofia Jones
é terrível existência de duas retas 
paralelas porque elas nunca se cruzam 
e elas apenas se encontram no infinito 
a verdade é que nunca nos interessou
a questão do infinito mas o resto 
das ideias matemáticas claro que sim 
eu na verdade prefiro mais de mil vezes 
sua chávena de chá ficando fria sobre a mesa 
enquanto você fala sobre raízes quadradas 
enquanto você fala sobre ladrões de figos 
enquanto você fala sobre o tropeço da baleia 
subitamente eu já nem sei sobre o que você fala 
porque a forma como seu dente incisivo corta
e suspende toda a beleza da cafetaria 
faz com que eu novamente entenda que 
pelo sétimo dia é chegada a hora do cuco 
e do canto do cuco 
portanto eu pego minha bicicleta 
e como de costume você faz meu retrato 
de cabelo todo desenhado no vento 
em jeito de menino que está sempre indo embora 
à mesma hora e que amanhã se tudo der certo 
voltará à mesma hora para o mesmo amor 
a mesma mesa a mesma explosão 
com toda a certeza a mesmo fuga 
porque você e eu a gente é feito de matéria 
escorregadia, i.e., manteiga, azeite, geleia
e espanto.


Matilde Campilho




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