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sábado, 15 de abril de 2023

PABLO NERUDA

 Poema V

Para você me ouvir
minhas palavras
eles emagrecem às vezes
como as pegadas das gaivotas nas praias.
Colar, cascavel bêbado
para suas mãos macias como uvas.
E eu olho para elas longe, minhas palavras.
Mais do que minhas são suas.
Eles estão subindo na minha velha dor como as jedras.
Elas sobem assim pelas paredes molhadas.
Você é a culpada deste jogo sangrento.
Elas estão fugindo do meu covil escuro.
Você preenche tudo, você preenche tudo.
Antes de você povoaram a solidão que ocupa,
e estão mais acostumadas do que você com a minha tristeza.
Agora quero que digam o que quero dizer.
para que as ouças como eu quero que me ouças.
O vento da angústia ainda costuma arrastá-las.
Furacões de sonhos ainda as derrubam.
Você ouve outras vozes na minha voz dolorida.
Choro de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, parceira. Não me abandones. Segue-me.
Segue-me, parceira, nessa onda de angústia.
Mas as minhas palavras são tingidas com o teu amor.
Tudo você ocupa, tudo você ocupa.
Estou fazendo de todas um colar infinito.
para suas mãos brancas, macias como uvas.
PABLO NERUDA



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