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domingo, 1 de janeiro de 2023

Machado de Assis

Dois horizontes fecham nossa vida: 

Um horizonte, - a saudade 
Do que não há de voltar; 
Outro horizonte, - a esperança 
Dos tempos que hão de chegar; 
No presente, - sempre escuro, - 
Vive a alma ambiciosa 
Na ilusão voluptuosa 
Do passado e do futuro. 

Os doces brincos da infância 
Sob as asas maternais, 
O vôo das andorinhas, 
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado 
Num olhar profundo e ardente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do passado. 

Ou ambição de grandeza 
Que no espírito calou, 
Desejo de amor sincero 
Que o coração não gozou; 
Ou um viver calmo e puro 
À alma convalescente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do futuro. 

No breve correr dos dias 
Sob o azul do céu, - tais são 
Limites no mar da vida: 
Saudade ou aspiração; 
Ao nosso espírito ardente, 
Na avidez do bem sonhado, 
Nunca o presente é passado, 
Nunca o futuro é presente.


Machado de Assis 




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