Seguidores

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

José Cabral de Melo

 

Photo: Kelly Sikkema










A tinta e a lápis 
escrevem-se todos
os versos do mundo. 

Que monstros existem 
nadando no poço
negro e fecundo? 

Que outros deslizam 
largando o carvão
de seus ossos? 

Como o ser vivo
que é um verso,
um organismo 

com sangue e sopro, 
pode brotar 
de germes mortos?


O papel nem sempre 
é branco como 
a primeira manhã. 

É muitas vezes 
o pardo e pobre 
papel de embrulho; 

é de outras vezes
de carta aérea, 
leve de nuvem. 

Mas é no papel, 
no branco asséptico, 
que o verso rebenta. 

Como um ser vivo 
pode brotar 
de um chão mineral? 


José Cabral de Melo Neto

Sem comentários: