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terça-feira, 30 de agosto de 2022

Nuno Júdice

 

As palavras que me vinham aos lábios eram distintas 
daquele sentimento "poético" que, por influência alheia,
eu sentir interior, em determinada altura. Mais tarde,
procurando analisar essa fase "delirante" da minha vida,
não encontrei mais do que metáforas românticas, ou seja, 
uma usurpação da verdade sobre a forma - mais uma vez -
"poética" de compreensão. Esgotadas as diversas tentativas para
que, ao superar a primitiva limitação da loucura, me 
pensasse com a devida coerência ("medidamente"),
refugiei-me no silêncio de onde, até hoje, não saí.
Em vão me teriam apontado outras hipóteses de "cura";
só esta, que aqui transformo numa sua alternativa 
superior, me transmite a plena posse do sentido 
metafísico do acto. E já este, ao realizar-se no trabalho 
agora anunciado, não satisfaz a primitiva ânsia de doença,
a qual exacerba o só lembrá-la, e assim estimula a febre,
a vertigem que o corpo aponta à tremura dos dedos.


Nuno Júdice




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