O sol que assim se abate sobre mim
é meu, na implausibilidade
da palavra, na negação
da ideia
Condição implacável,
esta de ter um céu,
quase ter Deus,
ver abismos de frente e retornar depois
aos gestos
de pôr a mesa, arrumar papéis,
organizar a vida
- contas, subtrações, que é preciso
como o destino
Sem ajuste do sol,
o meu sonho esta noite foi
contigo
E é como se vivesse em diferido:
frases de frente,
sílabas que se impõem, perfiladas
só eu dormi em haustos
muito curtos,
como se respirasse sem conforto,
a chuva num horror de vidro
claro
E contudo, tenho um céu,
avesso do que sabe redimir,
mas céu
Que mística haverá
neste colocar de versos, uns sobre os
outros, peças de jogar, pirâmides
de plástico ou madeira,
os faraós ausentes?
Convoco o sol, que é meu,
mas não aquece
E sou quase completo nessa
imperfeição
Ana Luísa Amaral
1 comentário:
Intensa como só ela....
Um poema que nos estremece,a mostrar-nos que na arte, a realidade não Ė!
A realidade inventa-se!
Ana Luísa Amaral,uma perda precoce, dolorosa e insubstituível.
Bj e bfs
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