Seguidores

domingo, 26 de novembro de 2017

Pablo Neruda



















Brincas todos os dias com a luz do Universo.
Subtil visitadora, chegas na flor e na água.
És mais do que a pequena cabeça branca que aperto
Como um cacho entre as mãos todos os dias.

Desde que eu te amo não te pareces com ninguém. 
Deixa-me deitar-te entre grinaldas amarelas.
Quem escreve o teu nome com letras de fumo nas estrelas do sul?
Ah, deixa-me recordar-te como eras então, quando não existias ainda.

De repente o vento uiva e golpeia a minha janela fechada.
O céu é uma rede repleta de peixes sombrios.
Aqui vêm dar todos os ventos, todos.
A chuva despe-se.

Passam em fuga os pássaros.
O vento. O vento.
Eu só posso lutar contra a força dos homens.
A tempestade amontoa folhas escuras
e solta todas as barcas que a noite passada amarrou ao céu.

Tu estás aqui. Ah tu não foges.
Tu responder-me-ás até ao último grito.
Encolhe-te a meu lado como se tivesses medo.
Mas por vezes uma sombra estranha corria pelos teus olhos.

Agora, também agora, pequena, me trazes madressilvas
e até os seios tens perfumados.
Enquanto o triste vento galopa matando borboletas
eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.

Quanto te terá doído habituares-te a mim,
à minha alma bravia e solitária, ao meu nome que todos afugentam.
Vimos tantas vezes Vénus arder, enquanto nos beijávamos nos olhos
e sobre as nossas cabeças se destorciam os crepúsculos em leques giratórios.

As minhas palavras choveram sobre ti numa carícia.
Amei desde cedo o teu corpo de nácar ao sol.
Creio-te mesmo dona do Universo.
Trar-te-ei das montanhas flores alegres, "copihues",
avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.
Quero fazer contigo
O que a primavera faz com as cerejeiras.



Pablo Neruda

1 comentário:

Fatima maria disse...

Passam em fuga os pássaros.
O vento. O vento.
Eu só posso lutar contra a força dos homens.
A tempestade amontoa folhas escuras
e solta todas as barcas que a noite passada amarrou ao céu

bjinho