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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Eugénio de Andrade

































Este rosto rente à terra
esta poeira
fresca ainda do rebanho,

este tumulto de palavras
cálido
para escrever na pele,

esta língua de argila
porosa
e cativa,

são sinais de outro verão.

Ternamente incestuoso vai chegar
o inverno
vai chegar cego pela mão do vento
vai chegar
aos tropeções
o sangue dos espelhos.

O sol
não tardará a ser água.

Entre o feno fremente e a fonte furtiva
no alto fim de setembro

procura

o lugar
onde um corpo entre noutro corpo

repousa no ardor
adormece no rumor
na coroa de fogo das colinas.

O verão é branco e liso
e sempre ficam sinais.



Eugénio de Andrade

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