Ao contrário de ti, não quis dormir nessa noite: os teus beijos ainda estavam todos na minha boca e o desenho das tuas mãos na minha pele. Eu sabia que adormecer
era deixar de sentir, e não queria perder os teus gestos no meu corpo um segundo que fosse. (...)
Brincas todos os dias com a luz do Universo. Subtil visitadora, chegas na flor e na água. És mais do que a pequena cabeça branca que aperto Como um cacho entre as mãos todos os dias.
Desde que eu te amo não te pareces com ninguém. Deixa-me deitar-te entre grinaldas amarelas. Quem escreve o teu nome com letras de fumo nas estrelas do sul? Ah, deixa-me recordar-te como eras então, quando não existias ainda.
De repente o vento uiva e golpeia a minha janela fechada. O céu é uma rede repleta de peixes sombrios. Aqui vêm dar todos os ventos, todos. A chuva despe-se.
Passam em fuga os pássaros. O vento. O vento. Eu só posso lutar contra a força dos homens. A tempestade amontoa folhas escuras e solta todas as barcas que a noite passada amarrou ao céu.
Tu estás aqui. Ah tu não foges. Tu responder-me-ás até ao último grito. Encolhe-te a meu lado como se tivesses medo. Mas por vezes uma sombra estranha corria pelos teus olhos.
Agora, também agora, pequena, me trazes madressilvas e até os seios tens perfumados. Enquanto o triste vento galopa matando borboletas eu amo-te, e a minha alegria morde a tua boca de ameixa.
Quanto te terá doído habituares-te a mim, à minha alma bravia e solitária, ao meu nome que todos afugentam. Vimos tantas vezes Vénus arder, enquanto nos beijávamos nos olhos e sobre as nossas cabeças se destorciam os crepúsculos em leques giratórios.
As minhas palavras choveram sobre ti numa carícia. Amei desde cedo o teu corpo de nácar ao sol. Creio-te mesmo dona do Universo. Trar-te-ei das montanhas flores alegres, "copihues", avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos. Quero fazer contigo O que a primavera faz com as cerejeiras. Pablo Neruda
Do outro lado da casa, as crianças brincam com o tempo que corre para que elas não brinquem com ele. Na casa ao lado, um cão vê o tempo a passar e ladra-lhe para ele fugir como se fosse um ladrão. Na rua, o mendigo pede a toda a gente a esmola de um tempo, e toda a gente diz que não tem tempo para lhe dar. No café, peço uma chávena de tempo, curto e bem forte porque não tenho tempo para dormir, mas ao meu lado há quem peça uma chávena bem cheia de tempo para que o tempo demore a beber. Há quem corra por falta de tempo, e o tempo vai atrás dele para o apanhar. No metro, a rapariga atravessa o cais, devagar, como se tivesse mais tempo do que todos os que contam o tempo para não lhes descontarem no tempo. E quando me perguntam se tenho tempo, olho para o relógio, como se ele estivesse cheio de tempo, e peço que tirem de dentro dele todo o tempo, e que o esvaziem até ao último segundo, para eu ficar com tempo para ver quanto tempo já passou.
Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Dame tu brazo, amor, y caminemos, dame tu mano y sírveme de guía. Ya no quiero saber si es noche o día: mis ojos estánciegos.Avancemos. Dame tu estar, amor, en los extremos, tu presencia y tu infiel sabiduría: por los caminos de la sangre mía ya no sé si es que vamos o volvemos. Y no me digas nada. No es preciso. Deja que vuelva al pórtico indeciso desde donde no escucho ni presencio: Todo fue dicho ya, tan a menudo, que ahora tengo miedo, amor, y dudo de aquello que está al borde del silencio.
Não sei se o que chamam amor é este apaziguamento. Não sei se comias fogo. Tuas abelhas voam agora em círculos tranquilos. Mães serenam seus filhos no ventre, não sei se o que enfim chamam amor é esta areia fina.
Agora estamos um dentro do outro, fazemos longas visitas deslumbradas porque "o nosso prazer lembra um rio vagaroso no meio de juncos ao cair da tarde."
As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio falaríamos melhor de tudo isto. Não sei se o que chamam amor é a cama desfeita o sol fugindo, uma vontade louca de beber a grandes goles a noite entorpecente.
Com o silêncio, o silêncio sem nome: morrermos a meio do filme simples, calada, dedicadamente. Eras tu, amor? - Era eu, era eu!
O sol cai sobre os pássaros que se erguem, e pousam, e voltam a bater as asas para que o sol os não deixe cair; e o vento leva-os ao longo das dunas, como sementes prontas para serem plantadas numa terra de nuvens.
E o sol não encontra a terra do teu corpo para nele plantar o seu fogo azul; nem os pássaros pousam nos teus braços que se estenderiam em busca de nuvens mais próximas, à espera das tuas mãos.
E sinto o vento mudar de direcção, de norte para sul, indicando o rumo que os teus olhos procuram, seguindo o voo desses pássaros que abandonam a terra fria, e a deixam entregue ao silêncio.
Mas fico junto a ti, nesta hora de frases incertas, ouvindo a pergunta que os teus lábios soltam, numa floração luminosa, sem esperar resposta, ouvindo apenas o rumor de maré no eco das tuas palavras. Nuno Júdice
Não sei de onde vem esta imagem que percorre os dias e as noites, ou esses instantes em que um rumor se desprende do fundo do ser. Há restos de uma espuma de frases, de uma ondulação de sentimentos na concha das mãos, de um desejo de abismo nos braços trémulos de uma névoa de madrugada, que atravessam a memória enquanto o vento salgado do inverno faz entrar no corpo um frio que rejuvenesce. Respiro o fumo do passado, e afasto as brasas para ver se ainda recupero alguns rostos, uma ondulação de cabelos quando é preciso correr para nos libertarmos das ondas que crescem com a maré, e submergem o que resta do navio afundado numa rajada de acasos.
E a imagem continua a assombrar-me, como se fosse a vertigem de calor que sacode as searas imóveis do verão, quando o sol as prende à terra e só um pássaro, no centro do céu, sugere um outro caminho para quem se perdeu no labirinto dos campos, vendo o tempo passar à sua frente com o lento silêncio dos seus passos de areia. E é quando surge um sonho de água sem fim, de superfície lisa como o espelho azul em que o teu rosto se reflecte, e o murmúrio do amor se confunde com a respiração que emana do horizonte, que um desenho de ilhas e de falésias anuncia o porto indicado no mapa do teu corpo, com a sombra de mármore dos lençóis que o escondem.
E descubro-te no fundo desta imagem, envolta no veludo de ausência em que os meus dedos sentem a tua pele, e tiram de dentro do nada o calor das palavras com que o amor é esculpido na pedra do poema. Nuno Júdice
Da grande página aberta do teu corpo sai um sol verde um olhar nu no silêncio de metal uma nódoa no teu peito de água clara Pela janela vejo a pequenina mão de um insecto escuro percorrer a madeira do momento intacto meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa ó favos de sol Da grande página aberta sai a água de um chão vermelho e doce saem os lábios de laranja beijo a beijo o grande sismo do silêncio em que soberba cais vencida flor
É proibido chorar sem aprender, Levantar-se um dia sem saber o que fazer Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas Não lutar pelo que se quer, Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade. É proibido não demonstrar amor Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor. É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos Chamá-los somente quando necessita deles. É proibido não ser você mesmo diante das pessoas, Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você, Esquecer aqueles que gostam de você. É proibido não fazer as coisas por si mesmo, Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos, Não viver cada dia como se fosse um último suspiro. É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram, Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente. É proibido não tentar compreender as pessoas, Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte. É proibido não criar sua história, Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você, Não compreender que o que a vida te dá, também te tira. É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva, Não pensar que podemos ser melhores, Não sentir que sem você este mundo não seria igual.