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terça-feira, 4 de setembro de 2012

LITANIA

EUGÉNIO DE ANDRADE, in ATÉ AMANHÃ,



O teu rosto inclinado pelo vento;



a feroz brancura dos teus dentes;

as mãos, de certo modo, irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes


o triunfo cruel das tuas pernas,

colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece

navegar ou cantar, ou simplesmente ser

a cor dum fruto, o peso duma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror,

são a grande razão, a única razão
.

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