E uma tília é a minha árvore escolhida;
e todos os verões, que nela calam,
agitam-se de novo nos mil ramos
e despertam de novo entre o Dia e o Sonho.
Floresta desperta, em meio de inverno doridos
ousaste pressentir a primavera,
e deixas coar de leve a tua prata
para eu ver como a tua saudade reverdece.
E ao sabor dos caminhos que através de ti me levam
não reconheço nem donde nem para onde,
e apenas sei; havia portas ante os teus mistérios fundos -
e já não as há.
A vida, não tentes compreendê-la,
e então ela será como uma festa.
E que cada dia te aconteça
como a uma criança que, ao caminhar,
de cada sopro de vento
vai recebendo presentes de flores.
Apanhá-las e guardá-las,
nem nisso pensa a criança.
Tira-as devagar do cabelo
onde se sentiam tão bem,
e estende as mãos aos jovens anos
para receber novas flores.
Quem me dera ser como os que em si são secretos:
Não mostrar na fronte os pensados pensamentos,
oferecer só uma saudade em minhas rimas,
dar com os meus olhares só um germinar breve,
dar com o meu silêncio só um arrepio.
Não trair mais, entrincheirar-me todo
e ficar solitário; que assim fazem os completos:
só quando a multidão ruidosa se ajoelha
como derrubada por luminosas lanças,
só então tiram eles os corações do peito
como custódias, e abençoam-na com eles.
Só de escutar e pasmar fica parada,
minha vida fundo funda;
para saberes o que te quer o,
inda antes que os vidoeiros se movam.
E quando o silêncio te tinha falado,
deixa vencer teus sentidos.
Dá-te a cada sopro, cede,
que ele há de amar-te e embalar-te.
E então, minha alma, sê ampla, ampla,
para ganhares a vida;
desdobra-te como um vestido de festa
sobre as coisas que meditam.
Sonhos que cachoam no teu fundo,
liberta-os da escuridão.
São como fontes, e caem
mais claros em pausas de canções
de novo no regaço das taças.
E agora sei: sê como as crianças.
Toda a angústia é só começo;
mas a terra não tem fim,
e o medo é só o gesto,
e saudade o seu sentido.
Rainer Maria Rilke
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