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domingo, 18 de junho de 2023

Jorge de Sena

 

JUN

Não queiras, não perguntes, não esperes. 
Isto que passa como vida e tu
medes em dias, horas e minutos, 
ou como tempo passa e vais medindo 
em rugas e lembranças e em sombrias 
e plácidas visões de coisa alguma, 
às vezes sorridentes, mas sombrias; 
sim: isto, a que dás nomes, que separas 
do resto em que surgiu, de que surgiu; 
isto, que já não queres, não interrogas, 
de que já nada esperas, mas que queres, 
porque perguntas sempre, e por que esperas; 
isto, que já não és tu, nem vai contigo, 
nem fica quando vais; em que não pensas, 
porque ao medir apenas medes e 
nada mais fazes que medir - só isto, 
apenas isto, isto unicamente: 
não queiras, não perguntes, não esperes, 
que o pouco ou muito é tudo o que te resta.


Jorge de Sena





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