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domingo, 19 de dezembro de 2021

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

















Estranha noite velada, 
Sem estrelas e sem lua, 
Em cuja bruma recua 
Fantasma de si mesma cada imagem.

Jaz em ruínas a paisagem, 
A dissolução habita cada linha. 
Enorme, lenta e vaga 
A noite ferozmente apaga 
Tudo quanto eu era e quanto eu tinha.

E mais silenciosa do que um lago, 
Sobre a agonia desse mundo vago, 
A morte dança 
E em seu redor tudo recua 
Sem força e sem esperança. 

Tudo o que era certo se dissolve; 
O mar e praia tudo se resolve 
Na mesma solidão eterna e nua. 


Sophia de Mello Breyner Andresen

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