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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede.

 Ver claro

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede.




′′ Gloucester Harbor ′′ do artista americano Winslow Homer (1836-1910). Aquarela e guache no papel



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