(o primeiro) Corrida matinal
Comecei a correr todos os dias de manhã, e detesto.
Levantar da cama, vestir uns calções, calçar os ténis, e ficar uns minutos (acontece-me sempre) a escolher a t-shirt e acabar por pegar numa qualquer.
Saio! Sinto a pele a reagir e às vezes entretenho-me a desdobrar esses segundos de impacto com a temperatura exterior numa multiplicidade de momentos: o rosto a esticar, os pelos das minhas pernas a eriçar, o ar que me entra ao respirar e me faz ter consciência do interior da minha boca e da minha garganta, a ponta do nariz que gela, o meu pénis que se contrai traduzindo a minha mais profunda relutância a este esforço matinal...
E é começar! Não pensar muito e seguir.
Mas na verdade penso, muito! E embora deteste reconheço-lhe a utilidade, limpa a mente e põe em circulação uma série de neurotransmissores, ou lá o que são.
E por isso, nesta minha ambivalência que já me cansa em relação a tudo, continuo a sair para correr quase sempre pelos passadiços no meio das dunas por onde, a esta hora, não passa ninguém.
Vejo um gajo na praia. Sentado na areia, de fato, parece um tipo todo atinado, e agora todo fodido. Tem uma cena qualquer que parece um daqueles pacotes pardos xpto dos ctt: “correio verde”.
Continuo a corrida, não me meto na vida dos outros, e agradeço que não se metam na minha, e distraio-me a imaginar o que teria nas mãos, o que sei tornará o meu percurso até casa mais rápido e leve. E neste exercício de livre fantasia, num crescendo que reconheço algo sádico, imagino cartas de despejo, a noticia da morte de alguém, ou fotografias da mulher com um amante.
E sem mais, estou de volta a casa.
Agora sim começa o dia e esqueço rapidamente o homem da praia.
Levantar da cama, vestir uns calções, calçar os ténis, e ficar uns minutos (acontece-me sempre) a escolher a t-shirt e acabar por pegar numa qualquer.
Saio! Sinto a pele a reagir e às vezes entretenho-me a desdobrar esses segundos de impacto com a temperatura exterior numa multiplicidade de momentos: o rosto a esticar, os pelos das minhas pernas a eriçar, o ar que me entra ao respirar e me faz ter consciência do interior da minha boca e da minha garganta, a ponta do nariz que gela, o meu pénis que se contrai traduzindo a minha mais profunda relutância a este esforço matinal...
E é começar! Não pensar muito e seguir.
Mas na verdade penso, muito! E embora deteste reconheço-lhe a utilidade, limpa a mente e põe em circulação uma série de neurotransmissores, ou lá o que são.
E por isso, nesta minha ambivalência que já me cansa em relação a tudo, continuo a sair para correr quase sempre pelos passadiços no meio das dunas por onde, a esta hora, não passa ninguém.
Vejo um gajo na praia. Sentado na areia, de fato, parece um tipo todo atinado, e agora todo fodido. Tem uma cena qualquer que parece um daqueles pacotes pardos xpto dos ctt: “correio verde”.
Continuo a corrida, não me meto na vida dos outros, e agradeço que não se metam na minha, e distraio-me a imaginar o que teria nas mãos, o que sei tornará o meu percurso até casa mais rápido e leve. E neste exercício de livre fantasia, num crescendo que reconheço algo sádico, imagino cartas de despejo, a noticia da morte de alguém, ou fotografias da mulher com um amante.
E sem mais, estou de volta a casa.
Agora sim começa o dia e esqueço rapidamente o homem da praia.
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