Seguidores

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Hamilton Ramos Afonso





Amar
*


*
Beija-me de novo com a intensidade
absoluta do primeiro beijo
olhos fechados a imaginares o corpo que um dia
possuíste e traz-me de novo os hálitos, fluidos e sons
da tua reacção à minha correspondência …
Cala-me a boca com um intenso sorriso
descola-te de mim , sem ruído, sem despedidas
ou desenhemos apenas um beijo desalmado, desesperado
corpos suados e unidos pelas ondas de prazer
soltas em liberdade, transportados aos limites
da consciência ou ultrapassemos esse limite.
Beija-me como se as recordações , tuas e minhas
fossem o bilhete que nos transporta à derrota…
…dá-me o beijo de hoje por quem somos
ou se quiseres o beijo do engano , como o primeiro
perdendo-te em mim se o desejares, beijo que seja
o do engano, e aquele como o primeiro, se o quiseres negar
promete ao menos que o guardarás para sempre…
…para nós…

Hamilton Ramos Afonso

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

POEMINHA DA FORMA DE SER FELIZ









Ó coração volúvel,                                                  
ao mesmo tempo,
generoso e lírico,
inconsciente das normas,
libertário espírito do amor,
inconformado aventureiro
das paixões adormecidas.
Todas as belas desejas
quando tua bela é única,
e só por ela, com ela, sobre ela
podes ter todas as outras.
Não sabes o que é ser feliz.
Inventas a felicidade,
todo dia, 
por necessidade de alegria.

De UM blog





Um Dia...s2



"Não sei se um dia já causei desejos.
Não sei se um dia já deixei saudades.

Não sei se um dia já mudei caminhos.

Não sei se um dia satisfiz vontades.

Não sei se um dia inspirei mil sonhos.

Não sei se um dia fui, de alguém, o mundo

Não sei se um dia eu já fui segredo.

Não sei se alguém, por meu amor, foi fundo.

Não sei se um dia já morei num peito.

Não sei se um dia já causei um pranto.

Não sei se um dia já causei sorrisos.

Não sei se um dia fui, de alguém, encanto.

Mas...se eu nunca, de alguém, fui todo...

Se pra ninguém eu fui a alegria...

Se cá de mim ninguém sentiu ciúmes...

Alguém me fez passar por isso...um dia!"

(Vilmar Costa.)

╚╗╔╝♫(¯`••´¯).(¯`••´¯)
╔╝.(¯`••´¯).¸.•*❤*•.¸.•*(¯`••´­­­­­­­­­­­­­­­­­­­¯)
╚══*•.¸.•* .... ԼƠVЄ.... *•.¸.•*❤ YOU.

Darlene Alves...❤

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Adolfo Casais Monteiro





Photo: Robert Doisneau






















Quem não sabe rir não sabe
nada da seriedade. Julga
haver só um lado em cada coisa, como
se houvesse frente sem traseiras e vice-versa.
Deixai os meus versos brincar quando precisam
de ficar à varanda das traseiras vendo
como o avesso das casas está cheio de verdade
insofismável.



Adolfo Casais Monteiro

Em que poema ????







O passado nos arrasta, por ele somos amarrados arejados e acorrentados, bafejados de algum bem de nenhum mal somos afastados !!!... <3 BJ Conde <3 em   ?????

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020








Sculpture: Camille Claudel























Esperando, identifico-te na estátua, 
A rima fecunda, o noivado secreto, 
As pequenas coisas de ilusionismo fácil 
Que servem para explicar o teu encontro. 

Nas ruas da cidade caminhas apressada 
Entre automóveis e imaginários amplexos 
Em direcção à minha boca de cativo 
Na arquitectura absurda desta tarde.

Trazes contigo o segredo desenhado 
Que derrete a moldura nas paredes 
E desfoca a paisagem, chapa branca 
Que te entrega em relevo à minha sede. 

Feito em sensualidade e rosas brancas 
Teu coração desnudo atrai o tempo 
Destruindo a lembrança das ausências 
Na poeira ilocalizável dos minutos.



Egito Gonçalves 

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Susana Maurício






BORBOLETA... MULHER!
Como larva te apareci. Senti-me segura.
Nesse meu casulo... atento me observaste.
Não imaginei que num primeiro olhar...
... visses a borboleta que existia em mim.
Calaste... nada proferiste.
Com doçura, fizeste-me rir.
Despreocupada nem sequer senti,
na metamorfose, as mil cores que vesti.
Minhas asas libertei e, para teus braços...
... voei!

Suavemente minhas asas acariciaste.
Estremeci!
Nova transformação em mim.
Mutação total!
Nos teus braços me transformei,
em Mulher completa... de tudo liberta.
O Amor nasceu e profundo cresceu.
Livres nos amamos, mesmo que profanos,
sem amarras... é assim que nos entregamos.

Borboleta... Mulher!
De cores diferentes me visto e me mostro.
Borboleta Cinzenta... Triste, Dorida.
Borboleta Branca... da Paz que almejo.
Borboleta Translúcida... p'ra não ser notada.
Borboleta Amarela... p'ra Luz emitir.
Borboleta Rubra... repleta de Paixão.
Borboleta Negra... de Revolta e Indignação.
Borboleta Rosa... do Amor no coração.
Borboleta Verde... de Esperança na mudança.
Borboleta Azul... com a serenidade que há em mim.
Borboleta... Colorida que Sorri e dá cor à Vida.
Mulher... Borboleta!

Nem todos os olhares vêem minhas nuances.
Difícil... saberem o todo que me preenche.
Sou Mulher...
... com metamorfoses.
Mulher... Borboleta!
Não mais uma larva.
Mulher completa que sabe o que quer.
Sorrio!
Prenhe de emoções e, dos sentires... dos sentidos.
Borboleta... Mulher.
Mulher... Borboleta!

Susana Maurício
22/02/2013
Sem revisão

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"








Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansados,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


A imagem pode conter: 2 pessoas, incluindo Antonio Maria, pessoas a sorrir, pessoas sentadas e mesa


Outra poesia de Valeria Di Felice







16.                                                                                    


Valeria Di Felice

Beve il seno
l'idra disciolta
della tua lingua,
il capezzolo di colpo
fattosi guardiano eretto -
stordito dalla risacca della tua bocca.
                                                              
Beve il corpo
non più l'oscurità concava dell'assenza
ma luce notturna – convesso giorno – che si addensa
intorno all'immensità delle stelle.

Beve, beve questo incontro
la bianca spuma che giace al fondo
tornata a riva sulla cresta della sua onda
con l'arcana verità del venire al mondo.

16.

Bebe o seio
a hidra dissolvida
da tua língua
o mamilo do golpe
ficou guardado ereto-
atordoado pela ressaca da tua boca.
                                                              
Bebe o corpo
não mais a escuridão côncava da ausência,
mas, a luz noturna - convexo  dia- que se adensa
em torno da imensidão das estrelas.

Bebe, bebe este encontro
a espuma branca deitada no fundo
de volta à costa na crista de sua onda
com a arcana verdade de vir ao mundo.

Ilustração: Youtube.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Maria Teresa Horta






Maria Teresa Horta





Foto: Man Ray








































Canto o teu Corpo  
Passados ESSES ano:  o prazer que me  acendes o espasmo that Semeias  A seara das Pernas  o peito OS teus DENTES  uma língua that afago  e como ancas estreitas  Canto a tua  febre fechada sem meu ventre  Canto o teu grito e canto como tuas veias  Canto ou teu gemido  teu hálito teus dedos  Canto ou teu corpo amor que me encantaia  Maria Teresa Horta

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Adam Zagajewski





Photo: Man Ray





















Aqueles que não gostam dele dizem: não é senão
um violino, que sofreu uma mutação
e foi afastado do coro.
Não é verdade.
O violoncelo tem muitos segredos,
mas nunca chora,
limita-se a cantar com voz grave.
Nem tudo nele, contudo, se transforma
em canto. Às vezes pode-se ouvir
uma espécie de bulício ou um sussurro:
estou só,
não consigo adormecer.


Adam Zagajewski

Pablo Neruda








AMOR
MULHER, teria sido teu filho por beber
o leite dos teus seios como um manancial,
por te olhar e te sentir ao meu lado e ter
...tido em teu riso de ouro uma voz essencial.
Por te sentir em minhas veias um Deus no rio
e te adorar nos tristes ossos de pó e cal,
porque teu ser passou sem pena e sem ter vício
saindo na estrofe pura - limpo desse mal -.
Como eu saberia te amar, mulher, saberia
amar, e amar, ninguém amou assim jamais!
Morrer e no entanto
amar-te mais.
E no entanto
amar-te mais
e mais.
Pablo Neruda

Nenhuma descrição de foto disponível.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Hamilton Ramos Afonso






POESIA
Rubis...
Tenho um sonho...
e espero um dia 
se transforme em realidade
o de gritar, 
numa praia 
a plenos pulmões 
o amor que por ti tenho
e ver, deliciado
nascerem dois belos rubis 
em teu rosto,
um em cada face..

*
Hamilton Ramos Afonso
*

(o primeiro) Corrida matinal





(o primeiro) Corrida matinal

Comecei a correr todos os dias de manhã, e detesto.

Levantar da cama, vestir uns calções, calçar os ténis, e ficar uns minutos (acontece-me sempre) a escolher a t-shirt e acabar por pegar numa qualquer.

Saio! Sinto a pele a reagir e às vezes entretenho-me a desdobrar esses segundos de impacto com a temperatura exterior numa multiplicidade de momentos: o rosto a esticar, os pelos das minhas pernas a eriçar, o ar que me entra ao respirar e me faz ter consciência do interior da minha boca e da minha garganta, a ponta do nariz que gela, o meu pénis que se contrai traduzindo a minha mais profunda relutância a este esforço matinal...
E é começar! Não pensar muito e seguir.
Mas na verdade penso, muito! E embora deteste reconheço-lhe a utilidade, limpa a mente e põe em circulação uma série de neurotransmissores, ou lá o que são.

E por isso, nesta minha ambivalência que já me cansa em relação a tudo, continuo a sair para correr quase sempre pelos passadiços no meio das dunas por onde, a esta hora, não passa ninguém.

Vejo um gajo na praia. Sentado na areia, de fato, parece um tipo todo atinado, e agora todo fodido. Tem uma cena qualquer que parece um daqueles pacotes pardos xpto dos ctt: “correio verde”.

Continuo a corrida, não me meto na vida dos outros, e agradeço que não se metam na minha, e distraio-me a imaginar o que teria nas mãos, o que sei tornará o meu percurso até casa mais rápido e leve. E neste exercício de livre fantasia, num crescendo que reconheço algo sádico, imagino cartas de despejo, a noticia da morte de alguém, ou fotografias da mulher com um amante.
E sem mais, estou de volta a casa.
Agora sim começa o dia e esqueço rapidamente o homem da praia.





E, de volta, Jacques Prévert









LE METÉORE

Jacques Prévert

Entre les barreaux des locaux disciplinaires
une orange
passe comme un éclair
et tombe dans la tinette
comme une pierre
Et le prisonnier
tout éclaboussé de merde
resplendit
tout illuminé de joie
Elle ne m’a pas oublié
Elle pense toujours à moi.

O METEORO

Entre as barras das instalações disciplinares
uma laranja
passa como um relâmpago
e tomba na lata
como uma pedra
E o prisioneiro
todo salpicado com merda
resplandece
todo iluminado de alegria
Ela não me esqueceu
Ela pensa sempre em mim.


William D. Hodjkiss






Foto: André Kertész












O vento se agita 
Do norte branco e frio 
Onde estão os portões do deus da tempestade; 
E nuvens irregulares, 
Como mantos, 
envolvem a última estrela fraca. Por entre árvores nuas, em cúpulas baixas, a voz nocturna geme e suspira; E canta profundo, sono quente embalado, Com canções de ninar cantadas pelo vento. Ele fica sozinho Onde o tom estranho da tempestade Em zombarias inchaço; E o hálito agudo de neve Da morte cruel As histórias de sua chegada contam. A queixa assustada De suas ovelhas parece fraca  Então a parede branca e sufocante - Então não se ouve mais, No rugido profundo e tonificado,




Da noite ofuscante e sem caminho. Sem luz nem guia,  Salve uma maré poderosa De medo louco o leva; Até sua forma entorpecida a frio  cresce estranhamente quente; E a força de seus membros se foi. Através da tempestade e da noite Uma luz estranha e suave Sobre o pastor adormecido brilha; E ele ouve a palavra do pastor chamada do bourne dos sonhos. Venha, deixe o conflito Da sua vida cansada; Vinde a Mim e descanse Da noite e do frio, Para o rebanho protegido, Pela mão do amor acariciado. A tempestade continua, mas seu trabalho está terminado - Uma alma para seu Deus fugiu;



E o refrão selvagem 
Da planície varrida pelo vento,  
Canta requiem pelos mortos.

 William D. Hodjkiss