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quarta-feira, 30 de março de 2016

Almeida Garrett /// Este inferno de amar !



 Este inferno de amar — como eu amo!...
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra; o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Que fez ela? Eu que fiz? — Não não sei
Mas nessa hora a viver comecei…



Almeida Garrett 
 
 

Tomaz Kim

Pedido



 Quando a morte vier, meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro...

e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e às nossas mãos a carícia dispersa;
relembremos o dia impossível,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuímos;
deixemos à poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos então, naturalmente...


Tomaz Kim
 
 

terça-feira, 29 de março de 2016

Eugénio de Andrade

Se as mãos pudessem (as tuas,
as minhas) rasgar o nevoeiro,
entrar na luz a prumo.
Se a voz viesse. Não uma qualquer:
a tua, e na manhã voasse....

E de júbilo cantasse.
Com as tuas mãos, e as minhas,
pudesse entrar no azul, qualquer
azul: o do mar,
o do céu, o da rasteirinha canção
da água corrente. E com elas subisse.
(A ave, as mãos, a voz.)
E fossem chama. Quase.
 
 

Eugénio de Andrade 






segunda-feira, 28 de março de 2016

Miguel Torga

.........................Só eu Sinto Bater-lhe o Coração




Dorme a vida a meu lado, mas eu velo.
(Alguém há-de guardar este tesoiro!)
E, como dorme, afago-lhe o cabelo,
Que mesmo adormecido é fino e loiro.

Só eu sinto bater-lhe o coração,
Vejo que sonha, que sorri, que vive;
Só eu tenho por ela esta paixão
Como nunca hei-de ter e nunca tive.

E logo talvez já nem reconheça
Quem zelou esta flor do seu cansaço...
Mas que o dia amanheça
E cubra de poesia o seu regaço!

Miguel Torga, in 'Diário (1946)'  




domingo, 27 de março de 2016

Ricardo - águialivre

No silêncio do teu olhar floresce o desejo


 
 
 
No silêncio do teu olhar floresce o desejo
Emoções que fluem em afago e devaneio
Orla molhada, lábios expostos num beijo
Corpos colados, sentimentos de permeio

Olhares fixos trespassando o pensamento
Palavras caladas no resguardo da emoção
Fragrância que aroma o nosso sentimento
Fluxos de amor refrescam nosso coração

Viagem pelos elos de um afecto presente
Fogo em labareda que abrasa docemente
Todo o meu sentir quando te desejo beijar

Fleuma de emoções numa palavra ardente
Pura afeição, abrasando em desejo carente
De ti meu amor, basta-me esse doce olhar
.............

Jorge de Sena

 

 

 

 

    

Senhor: não peço mais que silêncio,
o silêncio das noites de planície como enevoadas águas,
o silêncio dos montes quando a tarde acabou e as pedras
se afiam na friagem que é azul-celeste,
o silêncio do sol encarquilhando as folhas,
e o do vento na areia depois de ter passado,
o silêncio das ondas ao longe espumejando tranquilas,
o silêncio das mãos e o dos olhos,
e o das aves negras que pairam nas alturas
de um céu silencioso e límpido. Não peço
mais que silêncio. O silêncio das ideias que deslizam
no teto escorregadio da memória silente.
E o silêncio dos sonhos coloridos, e o dos outros
a preto e branco imagens desejadas
que não pensei que desejava e esqueço
ao querer lembrá-las. E o silêncio
dos sexos que se possuem sem uma palavra.
E o do amor também, tão silencioso esse,
que não sei quem amo.

Não peço mais. Afasta
de mim o estrondo: não o das cidades,
ou dos homens, das águas, do que estala
na memória ou penumbra das salas desertas.
Afasta de mim o estrondo com que a vida
se acabará contigo, num rasgar de súbito
em que ficarei inerte e silencioso. O estrondo
em que não ouvirei mais nada. O estrondo
em que não mexerei um dedo. O estrondo
em que serei desfeito. O estrondo
em que de olhos abertos
alguém mos fechará.

Senhor: não peço mais do que o silêncio do mundo,
o silêncio dos astros, o silêncio das coisas
que outros homens fizeram, e o das coisas
que eu próprio fiz. E o teu silêncio
de senhor que foi. Não peço mais.
Não é nada o que peço. Dá-me
o silêncio. Dá-me o que não fui:
silêncio (porque calei tanto):
o que não sou (pois que calo tanto):
o que hei de ser (já que falar não adianta):
silêncio.
Senhor: não peço mais. 


Jorge de Sena   
 
 
 

sábado, 26 de março de 2016

FELIZ PÁSCOA 2016




Páscoa é dizer sim ao amor e à vida ;  é investir na fraternidade , é lutar por um mundo melhor é vivenciar  a solidariedade.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Angelina Alves

Fecho os olhos
Para só ver
A imagem do teu sorriso
Contemplar a doçura do teu olhar
E viver meu paraíso...

Uma noite de luar
Deixei as pegadas na areia quente
Meus pés caminharam junto a ti
Fecho os olhos
E flutuo na imensidão real sentindo o vento.
Sinto o barulho da gente
Que brinca no tempo
Contente.
Entrelacei meus dedos nos cabelos
Acariciados por tuas mãos
Abri meus braços abracei o mar
Abracei o mar contigo em elos
De paz e harmonia
Fecho os olhos
Hasteamos juntos
A nossa bandeira de amor
Bem alta
Para mostrar com orgulho
Nosso sentimento tão nobre e grandioso
Vejo na minha frente
O mar imenso e majestoso
Azul perfeito
Surpresa maior
Não poderias ter feito.
O mar acalma-me tu sabes
Ajuda-me a refletir
Sempre foi o meu companheiro
Nas horas difíceis
Quem me fez sorrir
Fecho os olhos
E vejo os teus que docemente
Se aproximam devagarinho
Dos meus.
Sinto a nossa respiração
Extasiada no perfume da maresia
Soltei meus lábios
O teu beijo flutuou em mim
Como pura magia.


Escrito por. Angelina Alves 


 

quarta-feira, 23 de março de 2016

CESÁRIO VERDE //// Arrojos ( excerto )





ARROJOS (excerto)
...
Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.
Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

CESÁRIO VERDE
(publicado no "Diário de Notícias" de 22 de Março de 1874) 
 
 
 
 
 
 

 in "OBRA COMPLETA" (Portugália Ed., s.d.)

Maria Helena Guimaraes

Não sei..
 
 
 
Não sei.
Não é dor o que sinto,
nem vazio,...

nem desejo.
É a mágoa da perda
pela própria demissão
de abraçar o infinito.
A covardia de um rito.
É a incompreensão
da entrega
num beijo
que me prendeu a alma
me despertou
um soluço
e me orvalhou o olhar.
É não existir razão
de haver um sim
e um não.
É uma alma aberta
expressa em palavras
claras,
onde há lágrimas caladas
que me cobrem,
me fustigam,
me fazem sentir
mesquinha.
È preconceito,
é dilema,
é razão ou sentimento,
o querer e não querer
colher na vida o momento,
o sonho e a fantasia
que é minha.
   

Maria Helena Guimaraes

H.G. janeiro 2003 



 



 

terça-feira, 22 de março de 2016

António Ramos Rosa

Tudo o que sei, já lá está, mas não estão os meus
passos nem os meus braços. Por isso caminho,
caminho, porque há um intervalo entre tudo e ...

eu, e nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passos há um intervalo
também: então invento os meus passos e o meu próprio
caminho. E com as palavras de vento e de pedras,
invento o vento e as pedras, caminho um caminho de palavras.
Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim
E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe
Mas a noite existe
e a palavra sabe-o.
 
 
António Ramos Rosa,
in "Sobre o Rosto da Terra"  
 
 
 

segunda-feira, 21 de março de 2016

são reis

E de repente o amor surge
e vem com a força avassaladora
de um tsunami
de um vendaval que tudo consome
E tem o nome escrito!...

Escrito e tatuado
a mil palavras lavrado
sobre os poros que me enfeitam a pele
E sabe a eucalipto
a mel e a limão
a um chá de ervas
a um fogo de verão
e é doce!
Doce a tua mão que a mim se encosta
doce a tua língua que sobre mim resvala
e vai escavando
poços de ternura
e cala
(oh como cala) essa fome
essa secura
que só contigo se sacia
E depois explodimos em alegria
paredes meias
com esse sorriso contagioso que começa em ti
me atravessa de um lado ao outro do peito
e desemboca sereno e contrafeito
sobre o meu peito
como se nunca te tivesse amado
como se nunca tivesse saído de ti
e acabado em mim!
 
 

 são reis  
 
 
 

domingo, 20 de março de 2016

maria do rosário pedreira

Se partires, não me abraces
 
 

Se partires, não me abraces - a falésia que se encosta...
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.
Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces -
o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas ( como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar) ; e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.
 
 
Maria do Rosário Pedreira  
 
 
 

Isabel Sousa /// LUADIURNA

acende-se a magia
na cintura dos meus olhos
quando te procuro ao entardecer
nessa linha ténue...

que o horizonte desenha
antes do anoitecer
acende-se a magia
na cintura da noite
num braçado de estrelas
perfumando os risos
acariciando os corpos
até ao amanhecer
acende-se a magia
na cintura das palavras
no doce engano que é
perseguir um sonho tecido
nas franjas da ilusão
tantas vezes adiado
outras tantas consentido
acende-se a magia
na cintura dos teus olhos
emoldurando a noite e
os sonhos e os risos e
os corpos das estrelas
 
 
isabel sousa   ////    LUADIURNA  
 
 
 

sexta-feira, 18 de março de 2016

Al Berto

e tu sussurras:
- não, não afastes a boca da minha orelha.
derrama dentro dela aquilo que não consegues dizer em voz alta.
e eu digo:
- as tuas mãos queimam-me a fala....

tu sorris, dizes:
- vem , sem medo, pela aridez do meu corpo.
no fundo de mim existe um poço onde guardo a tua imagem.
é tempo de ta devolver.
é tempo de te reconheceres nela.

 




 Al Berto  


 


               


quinta-feira, 17 de março de 2016

Ricardo- águialivre

Suores ardentes, cálidas gotas em pura ternura
 
 
 
Passei as minhas mãos pelo teu corpo suado
Deslizavam pelos teus seios lindos, erguidos
Trocámos um beijo carinhoso e apaixonado
Deambulei pelos alicerces dos teus sentidos
Pelo interior do teu corpo, senti-me viajando
Qual estrela de vida vi teu olhar em afeições
Nossos corpos juntos, entregues, se amando
Unidos na voz suspensa dos nossos corações
Deleitados pelo ímpeto e sentimento carente
Entrega e paixão em carinho ávido, presente
Termos de amor, qual brilho em noite escura
Beijos molhados deslizando pela pele despida
Brilho de estrelas na suavidade de voz sumida
Suores ardentes, cálidas gotas em pura ternura



Publicada por Ricardo- águialivre


quarta-feira, 16 de março de 2016

Nuno Júdice


Olhando –se


O espelho enche-se com a tua...

imagem; e queria tirá-lo da tua
mão, e levá-lo comigo, para
que o teu rosto me acompanhe
onde quer que eu vá.
Mas sem ti, o espelho
fica vazio; e ao olhá-lo, vejo
apenas o lugar onde estiveste, e
os olhos que os meus olhos procuram
quando não sei onde estás.
Por que não fechas os olhos
para que o espelho te prenda, e
outros olhos te possam guardar,
para sempre, sem que tenham de olhar,
no espelho, o rosto que eu procuro?
  
 
 
Nuno Júdice    
 
 
 

Hamilton Ramos Afonso.

Espero-te



Nos meus lábios...

o mel da urze
em meus braços
o perfume da alfazema
no meu peito
o coração,
que é teu,
palpita por ambos,
e espera-te
no anseio de ambos
ardermos
na fogueira
da paixão…


Hamilton Ramos Afonso.   





terça-feira, 15 de março de 2016

Pablo Neruda

Dois Amantes



Tu eras também uma pequena folha...

que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tantas vezes enquanto vivem,
são eternos como é a Natureza.


Pablo Neruda  


segunda-feira, 14 de março de 2016

Ricardo Águia Livre

Quando os sentidos guiam meu corpo ardente


 
Quando os sentidos guiam meu corpo ardente
Pelas ruelas que o teu corpo me quer oferecer
Sinto em mim um desejo forte e consequente...

Em caminhar em ti, entregando-te o meu ser
Fixo meu olhar numa estrela da noite escura
Sorrio no sentimento do sonho em esplendor
Saboreio teu beijo repleto de mélica doçura
No sossego da fantasia, chamo-te: Meu amor
Sinto a cama vazia de esperança vil solidão
No resplendor do querer em sonho e ilusão
Surge a luz da palavra num desejo carente
Sobre os lençóis molhados do meu embaraço
Descansa a força intemporal do meu cansaço
Quando os sentidos guiam meu corpo ardente


 .
Publicada por Ricardo Águia Livre
 
 
 

domingo, 13 de março de 2016

Daniel Faria.

cerca-me



Prometo-te a palma da minha mão para a escrita....

Cerca-a de magnólias, cerca-me. Podes fechar a escrita
No interior da mão ou na boca dos livros
Podes esquecê-la ou libertá-la dos mil botões
Que ela sopra no interior dos homens.
Podes mandá-la àqueles que mais amas
Ou como pétalas e mensagens nas anilhas das aves
Aos teus próprios inimigos.
Podes desarmá-la para propagares as chamas.
Dou-te, como desde sempre, o poder
De escreveres na pele da minha mão
As promessas que te fiz.
Sabes que existo
E que vou repetir-te todas as coisas outra vez.
 


Daniel Faria.   



sábado, 12 de março de 2016

Maria Helena Guimarães

 
DEIXA SÓ...
 
 
 
Deixa só que os meus olhos
acariciem teu corpo,
mesmo de longe e sòzinhos.
No meu caminho de escolhos
o ver-te é chegar ao porto,
vencer os ventos daninhos.
Meus olhos não te magoam
quando exploram , dolentes,
o teu corpo de mansinho.
Não te julgam. Só perdoam.
Bebem-te os gestos, frementes,
e cobrem-te de carinho.
Olhar-te, estou consciente,
é flor de suave fragância,
aromas desconhecidos.
Só por si é suficiente
para diminuir esta ânsia
e adormecer os sentidos.
Deixa pois que os meus olhos
o teu corpo acariciem
mesmo de longe, ansiosos.
E como flor entre abrolhos
só de ver-te se saciem
e deixem de estar saudosos.
 
 
Maria Helena Guimarães
 
Do livro """ INTIMIDADES """
 
Ano 1994 , pag. 27 
 

   
 
 
 
                                                             

Al Berto

 
 
 

 desculpa
o que te queria dizer talvez não fosse isto
a solidão turva-se-me de lágrimas
e nas pálpebras tremem visões do meu delírio...

olho as fotografias de antigos desertos
corpos coerentes que fomos
bocas de papel amarelecido
onde a sede nunca encontrou a sua água
e às vezes ainda tenho sede de ti




Al Berto  




sexta-feira, 11 de março de 2016

Uma poesia de Roberto Bolaño


TU LEJANO CORAZÓN                                              
Roberto Bolaño

No me siento seguro
En ninguna parte
La aventura no termina
Tus ojos brillan en todos los rincones
No me siento seguro
En las palabras
Ni en el dinero
Ni en los espejos
La aventura no termina jamás
Y tus ojos me buscan

 

Teu distante coração


Não me sinto seguro
Em parte alguma
A aventura não termina
Teus olhos brilham em todos os lugares
Não me sinto seguro
Nas palavras
Nem no dinheiro
Nem nos espelhos
A aventura não termina jamais
E teus olhos me buscam 


Ilustração: www.albumpoeticoeda.com.br

quinta-feira, 10 de março de 2016

Maria Olinda Maia

Por ti...

A primeira vez que te vi
naquele dia quente de Verão
sentia-me presa entre ...

o céu e o inferno.

Foi impossivel fugir do teu olhar,,,
Meu coração estava fraco e eu
me apaixonei por ti.

Pouco sabia sobre ti
mas não me importei
porque estava presa ao desejo
por ti.

Prometi a mim mesma
que nunca iria desistir.
Eu lutei...
Por ti...


M.O.M.   ( Maria Olinda Maia ) 
 
 
 

quarta-feira, 9 de março de 2016

Uma poesia de Carlos Pérez Casas






UNO DE ESOS DÍAS
                                                  Carlos Pérez Casas
Hoy es uno de esos días
en los que prefiero
no hablar del amor o de la vida.
Puedo estar horas enteras
frente a ella
compartiendo charlas
y alegrías
y, aunque de versos místicos,
se llene mi alma de dicha.
Otras veces, como hoy,
despierto habiendo soñado
con ella
y aunque sea un sueño sin verso,
abro los ojos
cubierto de melancolia.

Um desses dias

Hoje é um desses dias
em que prefiro
                                                  não falar de amor ou da vida.
Posso estar horas inteiras
                                                         em frente a ela
partilhando de conversas
                                                               e alegrias
e, ainda que versos místicos,
encham minha alma de felicidade.
Outras vezes, como hoje,
acordo tendo sonhado
com ela
e até mesmo que seja um sonho sem verso,
abro os olhos
coberto de melancolia.

David Mourão-Ferreira

Nem todo o corpo é carne



Nem todo o corpo é carne ... Não, nem todo....

Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco?
E o ventre, inconsistente como o lodo?
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor ... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!


David Mourão-Ferreira  




terça-feira, 8 de março de 2016

José Gabriel Duarte

Amarmos


Amarmos é oferecermos um ao outro...

tudo o que de diferente os dois temos,
provarmos o sabor do que acontece entre nós,
bebermos da mesma fonte de amarguras,
festejarmos o tempo, sem tempo,
as alegrias e as loucuras,
revivermos o agora e o passado,
permanecermos sós,
e reféns de um longo caminho
cruzado e estreito,
e tão partilhado…



José Gabriel Duarte 








Do Noctivago

 
"Longa é a noite"

Passeias nua suavemente
pela minha mente
sinto o teu toque

mesmo distante de ti.

Imagino-te...
Toco a tua pele
com a ponta dos meus dedos,
delicadamente que só assim me sentes.

Aconchego o teu corpo
nos meus braços
a cada momento
com esta certeza de ti.

Longa é a noite
quando recordo a tua voz,
beijo-te uma, outra e ainda outra vez,
alimento assim esta vontade de ti.

De palavra em palavra
procuro chegar a ti
zango-me com o mundo
só porque não te deitas aqui.

Esta saudade imensa
queima a alma já de si perdida.
Sou apenas uma sombra 
 
DO  NOCTIVAGO
 
 
 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Eugénio de Andrade

Adeus
 
 
 
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


Eugénio de Andrade  




De luadiurna

POESIA

  
De luadiurna
 
 
Guardei para ti as madrugadas do sonho...
quando disse que te amava
e os meus olhos plenos de ti escorreram
pelo sol que era a lua encostada no teu rosto
beijos de ternura nasceram nos meus lábios
e o sorriso onde a realidade ainda não doía
levitava nesse querer ver~te em toda a parte
e nada mais havia senão o teu rosto e o teu nome
hoje sei que o tempo me doi e me enlouquece
e as lágrimas que me adentram são inúteis
_as palavras são sufocos instalados na rotina-
a saudade há-de gelar e o sol será a sombra
e a sombra um resquício dos enganos onde a verdade
nunca foi mais do que um sonho em sobressalto
um dia rir-me-ei de ser menina
nesse dia serei mais adulta mais mulher
será tarde ,digo eu, mas será ainda cedo p'ra saber
que há um tempo em que se sofre por se amar
uma sombra perseguida na memória
ninguém muda assim tanto de si mesmo
e esse será o tempo de partir

Isabel Sousa (luadiurna)  



 

Carlos Drummond de Andrade

O chão é cama



O chão é cama para o amor urgente,...

amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.
E para repousar do amor, vamos à cama.


Carlos Drummond de Andrade  


domingo, 6 de março de 2016

são reis

Amo e ardo
Tenho pressa de amar
e se volátil sou
devo-o ao mundo
que anda depressa demais...

que ama desigualmente...
Levo pela mão um punhado de sonhos
uns olhos repletos de viagens por fazer
e uma braçada de rosas
para quando olhar o mar!
Minha inocência é grande
e minha confiança total
e meu coração ainda bate devagar
tenho pressa de chegar
deixem minha inocência passar!
 



 são reis




sábado, 5 de março de 2016

são reis

E INCONSTANTES SOMOS!


Ousamos...

quando a medo atravessamos
as pontes que nos separam de nós
quando queimamos atrás de nós
as pontas do que queremos deixar no passado
Choramos
quando erradamente pensamos
que o passado não nos persegue
e não nos lança finos fios suspensos
como teias de aranha
Enredamo-nos
em lembranças que não esquecemos
Por vezes temos a leviandade de sorrir
outras vezes somos tão fracos e frágeis
que nos despedaçamos de encontro a qualquer coisa
basta que ela se atravesse à nossa frente
Fica-nos a vontade de passar essas pontes
a vontade de irmos de encontro ao que perdemos
e a presunção de que um dia os nossos braços abraçaram
e os nossos olhos lacrimejaram
por alguém ou por alguma coisa
E inconstantes somos
e mais inconstantes seguimos
porque é assim que sabemos avançar
nem que avancemos sem ver muito bem
o caminho que pisamos!


são reis
 
 
 

sexta-feira, 4 de março de 2016

Mais uma poesia de Karen Valladares



Poema para un beso que debo olvidar                              


Karen Valladares

                                                         "'En el dolor hay flores que caminan con pianos y con tigres"
                                                                          Ramoón M. Ocaranza

Y cómo se olvida la redondez de tu boca
ese sabor áspero que me impregnó hasta en lo más último de mis entrañas.
Pero fue algo que ya pasó.
Y pasó en la oscuridad fría de un vehículo
pero eso no importa.
Tampoco importa recordar tu mano sobre mi mano
y mi temblor por tanto nervio,
seguro ni lo notaste.
Eso tampoco te importa.
Cómo olvido tu boca besando mi boca
con toda la locura del mundo.
Cómo olvido esa noche fugaz
o relámpago?
y recuerdo también tus ojos,
tan profundos
tan sencillos
quizá decir que eran como una rara sonata mayor para piano y violín de esas de las más románticas.
Esa noche despedacé la palabra, la noche misma.
Y sé qué tampoco te importa.

Poema para um beijo que devo esquecer
                                   "Na dor há flores que caminham com pianos e com tigres"
                                                                      Ramoón M. Ocaranza

E como se esquece a redondez da tua boca
Esse sabor áspero que me impregnou até o mais fundo das minhas entranhas.
Porém, foi algo que já passou.
E passou na obscuridade fria de um veículo.,
porém, isto não importa.  
Tampouco importa recordar tua mão na minha mão,
e meu temor de tão nervosa,
que, com certeza, notaste.
Isto tampouco te importa.
Como esquecer tua boca beijando minha boca
com toda a loucura deste mundo.
Como esquecer esta boca fugaz
ou o relâmpago?
E recordo também teus olhos
tão profundos
tão sensíveis
talvez dizer que eram como uma sonata maior para piano e violino dessas das mais
românticas.
Essa noite despedacei a palavra, a noite mesma.
E sei que tampouco te importa.