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terça-feira, 1 de março de 2016

Mia Couto.



Saudade


Magoa-me a saudade...
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
Seja eu de novo tua sombra, teu desejo
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta
Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono.
 


Mia Couto

 Moçambique n. 1955
in Raiz de Orvalho e Outros Poemas
Editor: Editorial Caminho 
 
 
 
 

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