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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Laura Santos /// Ilusão


 

Sou mente tola que tudo inventa.
Porque não admito que o sol te aqueça
sem a minha presença.
Ou que a chuva te molhe
e acaricie sem pedir-me licença.
Que o sorriso que em mim se apresenta
fique triste quando te olhe.
Para ti desejei livres espaços
ocupados por árvores e por brisas,
corropio de amor, breves cansaços,
musgo verde, chão de pétalas de rosas
em movimento que tu pisas.
Criei nos teus ombros altas pontes
e nas tuas mãos abri sem querer
pequenos lagos, doces frescas fontes.
No teu olhar imaginei um pedaço de céu
que depressa  de mim desapareceu.
Mas nunca verdadeiramente te perdi.
De coisa nenhuma nunca algo nasceu.
Poderia dizer-te da tristeza sem idade,
falar-te desta angústia. Da fatalidade
desta tremenda estupidez....
Nada daria a medida das minhas penas,
do peso dos dias e das noites,
da alegria e contentamento que não se fez,
da beleza de todas as coisas pequenas.
Dos extensos, duradouros desertos
de sonhos adormecidos e despertos.
Deste exílio permanente em lugar nenhum.
Uma saudade de histórias não contadas;
apenas fantasia intensa sem maravilha...
Ilusões de óptica, escuras fundas estradas
como se fosses apenas uma ilha.
Não existe já um lamento ou um quebranto.
Apenas uma ausência que me atravessa,
uma lança que me trespassa, um triste canto.
Não existe já uma atrevida promessa.
Nem mágoa contida, nem devassa.
Apenas foste embora para a tua colina.
O teu e o meu tempo depressa passa
sabes do tesouro que existe no fundo da mina.
Mas, em ti persisto sem que esteja.
 
Laura Santos  
 
Escolhi para este poema, "A Case of You", composição e interpretação de Joni Mitchell, tema aqui interpretado com um ligeiro sabor a fado, por Ana Moura. Uma voz muito particular e sedutora. 
A versão de K.D.Lang é também muito bonita.
 
 
 
 

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