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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Nuno Júdice

 

Photo: Sergio Larrain



Às vezes sentimos que o tempo chegou ao fim, que 
as portas se estão a fechar por trás de nós, que já nenhum ruído 
de passos nos segue; e temos medo de nos voltar, de dar 
de frente com essa sombra que não sabíamos que nos 
perseguia, como se ela não andasse sempre atrás de nós,
e não fosse a nossa mais fiel companheira. Às vezes,
em tudo o que nos rodeia, encontramos essa impressão de
que não sabemos onde estamos, como se o caminho para 
aqui não tivesse sido o mesmo, desde sempre, e tudo 
devesse ser-nos, pelo menos, familiar. A solução é pegar 
no fim e metê-lo à boca, como se fosse uma pastilha 
elástica, derreter o sabor que o envolve, por amargo 
que seja, e no fim pegar nesse resto que ficou e, tal 
como se faz à pastilha elástica, deitá-lo fora. Para 
que queremos nós o nosso próprio fim? Já bastou 
tê-lo saboreado, derretido na boca, sentido o seu 
amargo sabor. Então, libertos do nosso fim, veremos 
que as portas se voltarão a abrir, que a gente continua 
a andar à nossa volta, que a sombra já não nos mete medo,
e que se nos voltarmos teremos pela frente o rosto 
desejado, o amor, a vida de que o fim nos queria ter privado.


Nuno Júdice

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