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quarta-feira, 30 de maio de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
Última Canção
Se puderes ainda
ouve-me, rio de cristal, ave
matutina. ouve-me,
luminoso fio tecido pela neve,
esquivo e sempre adiado
aceno do paraíso.
Ouve-me, se puderes ainda,
Devastador desejo,
fulvo animal de alegria.
Se não és alucinação
ou miragem ou quimera, ouve-me
ainda: vem agora
e não na hora da nossa morte
- dá-me a beber a própria sede.
Eugénio de Andrade
domingo, 27 de maio de 2012
sábado, 26 de maio de 2012
Ninguém meu amor
Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos
Sebastião Alba
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Quinta-feira, Maio 24, 2012 Nocturno
O desenho
redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele...Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...
Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...
Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....
Imaginei-te assim á beira-mar,
Só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
No desenho redondo do teu peito...
David Mourão-Ferreira
terça-feira, 22 de maio de 2012
Na mesa do Santo Ofício
Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.
Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.
Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.
Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.
Ary dos Santos
Foto:Eli
domingo, 20 de maio de 2012
quarta-feira, 16 de maio de 2012
De:helena guimaraes / Título: NÃO QUERO AMAR-TE
Sonhei contigo
Sonhei contigo embora nenhum sonho
possa ter habitantes tu, a quem chamo
amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a
esta palavra. É verdade o sonho
poderá ter feito com que, nesta
rarefacção de ambos, a tua presença se
impusesse - como se cada gesto
do poema te restituisse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus
lábios com o rebordo desta chávena
de café já frio. Então, bebo-o
de um trago o mesmo se pode fazer
ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -
terra, água, nuvens, rios e
o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência
da fontes. É isto, porém, que
faz com que a solidão não seja mais
do que um lugar comum saber
que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me
responda quando, uma vez mais
te chamo.
Nuno Júdice
Um amor
Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão.
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus, do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.
Nuno Júdice
Imagem retirada do Google
terça-feira, 15 de maio de 2012
Bastava-nos amar. E não bastava
Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.
Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.
Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.
Joaquim Pessoa
Foto:Eli
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Um poema de amor
Não sei onde estás, se falas
ou se apenas olhas o horizonte,
que pode ser apenas o de uma
parede de quarto. Mas sei que
uma sombra se demora contigo,
quando me pergunto onde estás:
uma inquietação que atravessa
o espaço entre mim e ti, e
te rouba as certezas de hoje,
como a mim me dá este poema.
Nuno Júdice
Imagem retirada do google
Lúbrica
Mandaste-me
dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.
Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!
Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:
Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.
Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.
As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...
Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!
Cesário Verde
domingo, 13 de maio de 2012
Tentei fugir da mancha mais escura
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.
David Mourão-Ferreira
Foto:Jonathan Charles
sábado, 12 de maio de 2012
De : Laughlin James
A media luz
Laughlin James
Tu cara es todavía tan hermosa
tiene un resplandor distinto
que proviene del sueño despierto y
acaricio tu mejilla siento tu
acaricio tu mejilla siento tu
aliento sobre mis dedos a tientas
tus ojos están cerrados pero sospecho
tus ojos están cerrados pero sospecho
que pueden ver & ahora miran
lo que está por venir ellos con-
lo que está por venir ellos con-
templan tan lejano el futuro
como el fin de nuestros días juntos.
como el fin de nuestros días juntos.
À meia luz
Teu rosto é, todavia, tão bonito
tem um resplendor distinto
que provém do sono desperto
acaricio tuas bochechas e te sinto
a respiração sobre meus dedos tateando
teus olhos estão fechados, porém, suspeito
que podem ver e agora olham
o que está por vir eles com-
templao o distante futuro
como o fim dos nossos dias juntos.
Teu rosto é, todavia, tão bonito
tem um resplendor distinto
que provém do sono desperto
acaricio tuas bochechas e te sinto
a respiração sobre meus dedos tateando
teus olhos estão fechados, porém, suspeito
que podem ver e agora olham
o que está por vir eles com-
templao o distante futuro
como o fim dos nossos dias juntos.
Ilustação: encontrodasaudade.blogspot.com
De ; posted by spersivo
De ; posted by spersivo
sexta-feira, 11 de maio de 2012
De: Gioconda Belli
YO, LA QUE TE QUIERE
Gioconda Belli
Yo soy tu indómita gacela,
el trueno que rompe la luz sobre tu pecho
Yo soy el viento desatado en la montaña
y el fulgor concentrado del fuego del ocote.
Yo caliento tus noches,
encendiendo volcanes en mis manos,
mojándote los ojos con el humo de mis cráteres.
Yo he llegado hasta vos vestida de lluvia y de recuerdo,
riendo la risa inmutable de los años.
Yo soy el inexplorado camino,
la claridad que rompe la tiniebla.
Yo pongo estrellas entre tu piel y la mía
y te recorro entero,
sendero tras sendero,
descalzando mi amor,
desnudando mi miedo.
Yo soy un nombre que canta y te enamora
desde el otro lado de la luna,
soy la prolongación de tu sonrisa y tu cuerpo.
Yo soy algo que crece,
algo que ríe y llora.
Yo,
la que te quiere.
el trueno que rompe la luz sobre tu pecho
Yo soy el viento desatado en la montaña
y el fulgor concentrado del fuego del ocote.
Yo caliento tus noches,
encendiendo volcanes en mis manos,
mojándote los ojos con el humo de mis cráteres.
Yo he llegado hasta vos vestida de lluvia y de recuerdo,
riendo la risa inmutable de los años.
Yo soy el inexplorado camino,
la claridad que rompe la tiniebla.
Yo pongo estrellas entre tu piel y la mía
y te recorro entero,
sendero tras sendero,
descalzando mi amor,
desnudando mi miedo.
Yo soy un nombre que canta y te enamora
desde el otro lado de la luna,
soy la prolongación de tu sonrisa y tu cuerpo.
Yo soy algo que crece,
algo que ríe y llora.
Yo,
la que te quiere.
Eu, o que te quer
Eu sou a tua indômita gazela,
O trovão que rompe a luz sobre teu peito.
Eu sou o vento desatado na montanha
e o brilho concentrado do fogo do pinheiro.
Eu esquento tuas noites,
acendendo vulcões em minhas mãos,
molhando-te os olhos com a fumaça de minhas crateras.
Eu cheguei até ti envolto em chuva e recordação,
Rindo o riso imutável dos anos.O trovão que rompe a luz sobre teu peito.
Eu sou o vento desatado na montanha
e o brilho concentrado do fogo do pinheiro.
Eu esquento tuas noites,
acendendo vulcões em minhas mãos,
molhando-te os olhos com a fumaça de minhas crateras.
Eu cheguei até ti envolto em chuva e recordação,
Eu sou o caminho inexplorado,
a claridade que rompe a escuridão.
Eu coloquei estrelas entre tua pele e a minha
e te percorro inteira,
trilha após trilha,
desamarrarando o meu amor,
expondo o meu medo.
Eu sou um nome que canta e te namora
desde o outro lado da lua.
Eu sou a extensão do teu sorriso e teu corpo.
Eu sou algo que cresce,
algo que ri e chora.
Eu,
o que te quer.
Do Blog By spersivo
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Esta manhã encontrei o teu nome
Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.
No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida
foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama
e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.
Maria do Rosário Pedreira
Foto:Julia Margaret Cameron
Não ser
Não ser nada
Acender um cigarro
Olhar para o vazio
Os dias correm sempre iguais
A letargia, o sono, o deixa andar
Já nada interessa…
Foto:Chris Blaszczik
Ah! arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
...
Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?!...
Florbela Espanca
Foto:Jean-François Jonvelle
Acender um cigarro
Olhar para o vazio
Os dias correm sempre iguais
A letargia, o sono, o deixa andar
Já nada interessa…
Foto:Chris Blaszczik
Ah! arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
...
Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?!...
Florbela Espanca
Foto:Jean-François Jonvelle
quarta-feira, 9 de maio de 2012
De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.
William Shakespeare
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.
William Shakespeare
terça-feira, 8 de maio de 2012
EL BESO
Jorge Cuesta
El champagne de la tarde sedativa
embriagó la montaña y el abismo,
de una sedosidad de misticismo,
y de una opalescencia compasiva.
Hundiste el puñal zarco de tu altiva
mirada en mis adentros, y el lirismo
cundió mi alma de romanticismo:
rodó la gema de la estrofa viva.
Entonces gimió el cisne de mi ansia,
por el remanso lleno de arrogancia
de tus ojos nostálgicos y sabios;
y la dorada abeja del deseo,
en su errante y sutil revoloteo
buscó el clavel sangriento de tus labios.
O BEIJO
O champanhe da tarde sedativa
embriagou a montanha e o abismo,
de uma sedosidade de misticismo,
e de uma opalescência compassiva.
Fundiste o punhal zarco de tua altiva
olhada em mim por dentro e o lirismo
cindiu a minha alma de romantismo:
rodou a gema da vida estrofe.
Então gemeu o cisne de minha ansia,
pelo remanso cheio de arrogância
de teus olhos nostálgicos e sábios;
e a dourada abelha do desejo,
no seu errante e sutil voleio
buscou a cereja vermelha de teus lábios.
O champanhe da tarde sedativa
embriagou a montanha e o abismo,
de uma sedosidade de misticismo,
e de uma opalescência compassiva.
Fundiste o punhal zarco de tua altiva
olhada em mim por dentro e o lirismo
cindiu a minha alma de romantismo:
rodou a gema da vida estrofe.
Então gemeu o cisne de minha ansia,
pelo remanso cheio de arrogância
de teus olhos nostálgicos e sábios;
e a dourada abelha do desejo,
no seu errante e sutil voleio
buscou a cereja vermelha de teus lábios.
Do Blog: By spersivo
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Campo de flores
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.
Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.
Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 6 de maio de 2012
Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.
Eu quero apenas amar-te lentamente
como se todo o tempo fosse nosso
como se todo o tempo fosse pouco
como se nem sequer houvesse tempo.
Soltar os teus seios.
Despir as tuas ancas.
Apunhalar de amor o teu ventre.
Joaquim Pessoa
Laughlin ainda uma vez
¿Por qué nos ocurre el amor?
Laughlin James
No es tan simple
Como el imperativo biológico
De continuar la especie.
Claro que hay algo de eso,
Pero además tu modo de mirar-
Me, tu cara encendida de alegría
Y el modo de hacer oír tu voz
En la oscuridad. ¿Qué hace que tu amor
Me elija? Te lo pregunté alguna vez
Pero no quisiste responder.
Era tu secreto. Mejor así.
Não é tão simples
Como o imperativo biológico
De continuar a espécie.
Claro que há algo além disso,
Porém, também o teu modo de olhar
Para mim, com teu rosto se iluminando de alegria
E o modo de fazer ouvir a tua voz
No escuro. O que fez que o teu amor
Me eleja? Te perguntei uma vez
Porém, não quisestes responder.
Era o teu segredo. Melhor assim
De: posted by spersivo
sábado, 5 de maio de 2012
Os reis magos
Diz a Sagrada Escritura
Que, quando Jesus nasceu,
No céu, fulgurante e pura,
Uma estrela apareceu.
Estrela nova ... Brilhava
Mais do que as outras; porém
Caminhava, caminhava
Para os lados de Belém.
Avistando-a, os três Reis Magos
Disseram: “Nasceu Jesus!”
Olharam-na com afagos,
Seguiram a sua luz.
E foram andando, andando,
Dia e noite a caminhar;
Viam a estrela brilhando,
sempre o caminho a indicar.
Ora, dos três caminhantes,
Dois eram brancos: o sol
Não lhes tisnara os semblantes
Tão claros como o arrebol
Era o terceiro somente
Escuro de fazer dó ...
Os outros iam na frente;
Ele ia afastado e só.
Nascera assim negro, e tinha
A cor da noite na tez :
Por isso tão triste vinha ...
Era o mais feio dos três !
Andaram. E, um belo dia,
Da jornada o fim chegou;
E, sobre uma estrebaria,
A estrela errante parou.
E os Magos viram que, ao fundo
Do presépio, vendo-os vir,
O Salvador deste mundo
Estava, lindo, a sorrir
Ajoelharam-se, rezaram
Humildes, postos no chão;
E ao Deus-Menino beijaram
A alva e pequenina mão.
E Jesus os contemplava
A todos com o mesmo amor,
Porque, olhando-os, não olhava
A diferença da cor ...
Olavo Bilac
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