Seguidores

sábado, 31 de outubro de 2009

Olhar...



Desnudo-me...
Agacho-me de mim próprio
Não sei o rumo a tomar
Estou perdido
Rumei durante anos sem destino
Quero-me encontrar.
Nu, sinto que me “vejo” melhor
Nas ruas tenho de andar vestido
Usar óculos de sol
Para não verem as minhas olheiras.
No trabalho agarro-me aos papéis
Volto para casa e dispo-me
A liberdade de poder estar comigo
Pensar no que quero
Estar em mim...
Voar...
Entrar dentro de mim...
E mudar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

JOSÉ MARIA GÓMEZ VALERO


EL TIEMPO QUE NOS QUEDA ES PARA LAS CARICIAS
[el lenguaje del perdón]

José Maria Gómez Valero


Pero si fui
el fuego en el que ardía tu casa,
las ruinas en tus ojos,
el dolor en tu voz.
Pero si fui
padre de tu hambre,
cuchillo en tu mesa,
sal en tu sed.
Pero si conseguí
que vivieras en desdicha,
que el miedo vistiera tus ropas,
que masticaras la soledad
como un fruto amargo.
Pero si fui arpón sucio
clavado en tu belleza:
por qué vienes.
Pero si no soy
digno de tu llanto:
por qué lloras ahora,
por qué te abrazas a mí.

[de Lenguajes]


O tempo que nos resta para as carícias
( A linguagem do perdão)

Mas se fui
o incêndio que queimou tua casa,
as ruínas de teus olhos,
a dor na tua voz.
Porém, se fui eu
o pai de tua fome
a faca na tua mesa,
o sal na tua sede.
Se consegui
que vivésses na miséria,
que o medo vestisse tuas roupas,
que mastigasses a solidão
como um amargo fruto.
Porém, se fui o arpão sujo
em tua beleza:
por que vens.
Porém, se não
digno de tuas lágrimas:
por que choras agora
por que te abraças a mim.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

RAFAEL DE DIOS



De roca y arena

Rafael de Dios

Apariencia de gélida roca
en las yemas te vas deshaciendo
de mis dedos. Te abrazo, te tiendo
y me bebo la miel de tu boca.

A mi piel, que, desnuda, te toca
y te abrasa cual cántaro hirviendo,
tú respondes amando y gimiendo
de manera fantástica y loca.

Moriría, cariño, de pena,
en tu cuerpo feliz navegante,
si algún día me fueras ajena.

Que preciso gozar, tierno amante,
de tu cuerpo de roca y arena
como el agua del mar incesante.

De rocha e areia

Aparência gelada de rocha
que em gomos se vai desfazendo
em meus dedos. Te abraço, te tendo
e eu bebo o mel de tua boca.

Minha pele, que, nua, te toca
e te abraça qual cântaro fervendo
tu respondes amando e gemendo
de maneira fantástica e louca.

Morreria, querida, de tristeza,
em teu corpo feliz navegante
se um dia ficasse alheio à tua beleza. .

Que preciso gozar, terno amante
de teu corpo de areia e dureza
como a água do mar incessante.

Ilustração: Cundo Bermundez, Mujer peinando su amante

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quero



Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
dementes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem retirada do Google

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

" roubado " a um blog que muito aprecio....

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...

Florbela Espanca
Imagem retirada da internet

domingo, 25 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Certezas, precisam-se



Preciso urgentemente de adquirir meia dúzia de valores absolutos,
inexpugnáveis e impenetráveis,
firmes e surdos como rochedos.

Preciso urgentemente de adquirir certezas,
certezas inabaláveis, imensas certezas, montes de certezas,
certezas a propósito de tudo e de nada,
afirmadas com autoridade, em voz alta para que todos oiçam,
com desassombro, com ênfase, com dignidade,
acompanhadas de perfurantes censuras no olhar carregado, oblíquo.

Preciso urgentemente de ter razão,
de ter imensas razões, montes de razões,
de eu próprio me instituir em razão.
Ser razão!
Dar um soco furibundo e convicto no tampo da mesa
e espadanar razões nas ventas da assistência.

Preciso urgentemente de ter convicções profundas,
argumentos decisivos,
ideias feitas à altura das circunstâncias.
Preciso de correr convictamente ao encontro de qualquer coisa,
de gritar, de berrar, de ter apoplexias sagradas
em defesa dessa coisa.
Preciso de considerar imbecis todos os que tiverem opiniões diferentes

da minha,
de os mandar, sem rebuço, para o diabo que os carregue,
de os prejudicar, sem remorsos, de todas as maneiras possíveis,
de lhes tapar a boca,
de lhes cortar as frases no meio,
de lhes virar as costas ostensivamente.
Preciso de ter amigos da mesma cor, caras unhacas,
que me dêem palmadinhas nas costas,
que me chamem pá e me façam brindes
em almoços de camaradagem.
Preciso de me acocorar à volta da mesa do café,
e resolver os problemas sociais
entre ruidosos alívios de expectoração.
Preciso de encher o peito e cantar loas,
e enrouquecer a dar vivas,
de atirar o chapéu ao ar,
de saber de cor as frequências dos emissores.
O que tudo são símbolos e sinais de certezas.
Certezas!
Imensas certezas! Montes de certezas!
Pirinéus, Urais, Himalaias de certezas!

António Gedeão

Foto:Grzegorz Szczerbaciuk

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Quinta-feira, Outubro 15, 2009

Pelo vento



A presença constante
Do teu sorriso
Perturba-me
E soletra-me
A vida mágica
Do encanto
Nas folhas trazidas
Pelo vento
E no sorriso lindo
De um poema
Conta-me uma história
Inacabada
Num só verbo feliz.

Paula Raposo , in"Marcas ou Memórias do Vento", pág.23, Apenas Livros Lda

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

Soneto do cativo



Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

David Mourão-Ferreira

sexta-feira, 9 de outubro de 2009



Os Veinte anos de Patxi Andion

O CSA relembrou Patxi Andion e eu relembrei Patxi, como sempre, através da canção que ouvi sem cansar, há trinta e alguns anos. É um poema lindíssimo, cantado de uma forma quase dita, que atinge alguns sentidos adormecidos na memória. Até porque não se pode viver sempre bem, com todos os sentidos acordados e agitados.
«Só se pode viver em ruptura constante. Se alguém ganha alguma coisa de novo, perde outra».

Veinte anos de estar juntos,
esta tarde se han cumplido,
para ti flores, perfumes
para mi...!Algunos libros!

No te he dicho grandes cosas
porque no me habrian salido,
! ya sabes cosas de viejos!
!Requemor de no haber sido!

Hace tiempo que intentamos
bonar nuestro Destino,
Tú bajabas la persiana.
Yo apuraba mi ultimo vino.

Hoy
En esta noche fría
casi como ignorando el sabor
de soledad compartida,
quise hacerte una canción,
para cantar despacito,
como se duerme a los ninos.
Y ya ves solo palabras,
sobre notas me han salido.

Que al igual que tú y que yo,
se soportan amistosas,
ni se importan ni se estorban,
mas non son una canción.

...Qué helaba está esta casa.
...Será que está cerca del Rio.
...O es que entramos en invierno.
...Y están llegando...
...Están llegando los fríos.

( El Arbujuelo , Soria, y a los 15 días del mes de Noviembre de 1970)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A mulher que passa



Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Vinícius de Moraes

Foto:Marta Glinska

sábado, 3 de outubro de 2009

NOITES..ESTRELAS...



DISTANTE

O teu corpo não tem explicação possível!
Ceú,estrela, mar,canção,doçura.
Paixão extrema, extrema amargura.
Realidade e meu sonho impossível.

O teu corpo, decerto, é invisível!
Afinal somente o vejo quando sonho
E desperto infeliz e tão tristonho
De que na luz não seja mais visível.

O teu corpo, que é um mundo de promessas,
Somente em fotos tem cores expressas,
Pois, mal o procuro perde toda cor.

Ai!Pobre de mim, infeliz e triste amante,
Condenado a ter somente tão distante
Toda a beleza de meu grande amor.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

ESTE VAZIO QUE NÃO SE EXPLICA...




Metade

Sei que percebi a solidão
como percebi a vida
sem clareza
como uma imagem
difusa e distante-
míope que sou.

A vida,
só sinto,
como a busca sem fim
de algo que não há,
mas, sinto se você
não está
uma imensa falta de mim.