lembro aquela primeira em vez 
em que me persuadiste a fechar os dedos 
por onde passava a areia que contava 
o correr louco dos dias 
falaste de uma brisa matinal 
de palavras feitas 
com que despertavas diariamente 
da matéria do tempo 
pensei na Elsinore de Cesariny 
e na floração da magnólia de Luiza 
exigiste 
lume 
para te dar chão 
vento 
para navegar as águas 
exigiste 
presente 
para exorcizar 
os espectros que teimosamente 
habitavam os pretéritos 
telúrico 
senti a noite  
penetrar a pele 
um ar quente          silente
embrenhando-se na carne 
e uma humidade 
entranhando-se nos ossos 
despindo o céu de luz 
num início de verão 
questionei o significado da
aparentemente estranha 
metáfora dos elementos 
e demandamos juntos 
o sentido das circunstâncias 
fomos conduzidos pelo 
indelével toque das mãos 
e pelas emanações da pele 
autenticada pelo amor 
através da madrugada 
até um tempo novo 
em que dos olhos fizemos 
pontos de luz 
e intimamente próximos 
dissipamos o nevoeiro
rui amaral mendes in a noite o sangue [2016]
 
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