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sábado, 30 de março de 2024

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

MAR




Vimos o mundo aceso nos seus olhos, 
E por os ter olhado nós ficámos
Penetrados de força e de destino.

Ele deu carne àquilo que sonhámos,
E a nossa vida abriu-se, iluminada
Pelas imagens de oiro que ele vira.

Veio dizer-nos qual a nossa raça,
Anunciou-nos a pátria nunca vista,
E a sua perfeição era o sinal
De que as coisas sonhadas existiam.

Vimo-lo voltar das multidões
Com o olhar azulado de visões
Como se tivesse ido sempre só.

Tinha a face orientada para a luz,
Intacto caminhava entre os horrores,
Interior à alma como um conto.

E ei-lo caído à beira do caminho,
Ele - o que partira com mais força
Ele - o que partira pra mais longe.

Porque o ergueste assim como um sinal?
Pusemos tantos sonhos em seu nome!
Como iremos além da encruzilhada
Onde os seus olhos de astro se quebraram?


Sophia de Mello Breyner Andresen





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