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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Nuno Júdice

 

Ao ver o teu rosto numa fotografia antiga, não imagino o 
que os anos lhe terão feito. Os cabelos negros poderão estar 
brancos; o rosto vestido de olheiras do tempo, ou 
de rugas; nos lábios, o que era um sorriso contaminado 
de ironia ter-se-á transformado no traço amargo de uma 
descrença sem remédio; e só os olhos ainda poderão manter 
a luz de fundo verde em que tantas vezes me perdi. Sim,
é o que o tempo nos faz, poderias dizer-me se acaso te 
encontrasse, algures. Mas os caminhos da vida, que nos 
levam a tantos desencontros, não podem evitar que 
tenha passado por ti, um dia qualquer, e nem sequer te 
tenha reconhecido, como se fosses outra, e no teu 
corpo de hoje nada tivesse sobrado de um breve amor.


Nuno Júdice




1 comentário:

mariferrot disse...

A passagem dos anos é que nos molda, a alma se esconde mas a máquina da transformação do tempo não deixa ninguém no caminho, e a todos suga a frescura para lhes dar o orvalho das lágrimas!!!...


Beijo Conde